POR   ARTUR ALONSO

 

1. Grécia            Incio do Pontificado Europeu – execer de Ponte entre culturas – No século V a.c. Atenas alcançou uma posição de superioridade em relação às restantes cidades-estado gregas. Grécia vai ser o primeiro entrecruzamento de culturas mediterrâneas e orientais, através do contanto com o mundo Egípcio, a civilização minóica, fenícia (cujo alfabeto seria adoptado pelos gregos) e a persa babilónica. Atenas exercerá de centro geográfico. Os povos, dos quais a Grécia herdou algumas da base da sua filosofia, possuiam umas riquíssimas cosmologias, cosmogonias, mitos, livros sagrados e sistemas iniciáticos.  A filosofia, nasce com os gregos, precisamente a palavra filosofia é grega e significa “amor à sabedoria”. Consiste no estudo de problemas fundamentais relacionados à existência humana, ao conhecimento, à verdade, aos valores morais, estéticos, à mente e mesmo à linguagem. Mas a filosofia não é Sabedoria Iniciática. Como afirma Lázaro Freire: “Por definição, a filosofia não pode ser a sabedoria, pois a aspira. Filosofia é amar a sabedoria, e Sócrates lembra no Banquete que deuses não amam, pois são completos”. No entanto a filosofia grega tem reminiscências claras do saber iniciático das idades, entede, por exemplo, o pensamento como a expressão das nossas idéias, sensações, emoções e sentimentos; tornando-se o mesmo, por meio da palavra, no centro emissor das vibrações tanto positivas quanto negativas, nascidas da humana mente. A religião grega, apesar da suas variantes e praticas ceremoniais diversas, processa uma unidade na essência, da qual a semelhança entre os cultos, não é senão um reflexo desse centro. A aparência politeísta, fica muito menos clara quando adentramos na significação dos mitos e das deidades, ou quando revisando algumas visões filosóficas como o estoicismo e o platonismo, descobrimos sem véus que ocultem a realidade, a afirmação duma deidade única transcendente, comum a visão do Aton egípcio, ou Zeroastro ou Zero – astro persa, a cosmogonia indiana ou ao conhecimento iniciático de muitos povos antigos. Isto não seria possível, sem a existência da chamada “religião dos mistérios”, a figura iniciática de Orfeu, e o pensamento órfico que permeia todas escolas de filosofia grega, desde Eurípides a Aristóteles. Estes princípios estão baseados na crença dum princípio divino no homem, na imortalidade da alma, e na capacidade humana de tomar consciência da sua essência divina, através de práticas místicas.  Essas mesmas escolas, ao igual que a pitagorica, seguindo a linha também do Egipto e Oriente, identificam ao Homem como o Microcosmo; possuidor no seu interior da síntese de todas as forças vitais universais. Um ser em contato com uma realidade mais transcendental (além da própria física), capaz de interligar todos estes planos, do mais denso como o mineral, ao mais sutil, como o divino, dentro de si próprio. Nós acreditamos nesse cruzamento de caminhos e saberes, ao igual que na raiz única do conhecimento universal. Pensamos positivamente que na Grécia clássica o saber iniciático foi transmitido também, de boca para ouvido. Todo este saber oculto parece querer falarmos de uma inteligência universal que regula todo o cosmos, sua essência tem como matriz, em cada ser a sua semente, que contem dentro de si toda informação necessária para realização deste ser, no plano vital que lhe for atribuído. Esse ser, essa inteligência cósmica que jaz por detrás de tudo quanto possa ser conhecido tem diversas denominações, segundo cada cultura, ideal ou visão concreta. Conhecesse pelos nomes de: Tat, Asat, Ain Suf, Absoluto, Divina Essência, Substância Eterna… O Parabrahman das tradições indianas. Parabrahman, em sânscrito: Para, além; Brahman, o Espírito Universal ou Universo Manifestado.  Esse universo manifestado Brahman, (que nasce daquele que não é objeto de conhecimento, pois é a causa do próprio conhecimento, e dizer Parabrahman) é constituído duma só matéria. Esta matéria apresentaria, por assim dizer, varias densidades, de maior ou menor subtileza. Sendo estas densidades que constituiriam os chamados planos do universo. Todos juntos formariam o Macrocosmo, no qual homem, como bem referenciamos antes, estaria integrado formando o Microcosmo. No Bhagavad Gita, Krisnha (que representa a Inteligência Cósmica) diz a, seu discípulo, Arjuna:“Eu sou a origem de tudo, o universo inteiro de mim dimana. Eu o princípio, o meio e o fim das cousas. Vê e observa o Universo inteiro, como todos os seres animados e inanimados, formando uma unidade, um todo no seu corpo” (…) “Vê, pois, o filho da Terra, e contempla-me que sou um só, em milhares e milhões de diferentes e variadíssimas formas”  Varias e diversas personagens, movimentos e escolas infundiriam este ideal, nascido da confluência de saberes ocidente – oriente, em diversas etapas históricas por todo o Continente. Destacaremos, em este estudo, algumas figuras de relevo, que teriam sido fulcrais em esta empresa, de trazer o saber oculto a uma necessitada, de amor, humanidade.

 

2. Roma   2.1 Apôlonio de Tiana   

Sua data de nascimento não é precisa, sabemos que foi no ano 15 da nossa era, na cidade de Tiana na Capadocia. Herdeiro da escola Pitagorica, da qual ele mesmo afirmava, em seus escritos ser discípulo. Sua misteriosa vida tem muita semelhança com a de Jesus Cristo, alguns documentos afirmam que Ele, certo dia, surgiu na terra sem ascendentes, mas também há documentos que dizem ser Ele filho de uma Virgem. Viajante infatigável chegou a Babilônia onde encontrou seu inseparável discípulo Damins, com o qul percorreu a índia, o Tibete e a Mongólia. Falam que deixou Damis nos Himalaias e partiu só para um mosteiro onde Ele tornou-se o “Senhor portador dos oito poderes da Ioga”, que era o mais alto Grau dos mosteiros daquela época, neste momento, dizem, uma áurea de Luz Lhe emergiu a cabeça de modo permanente. Falam também que ensinou a usar os poderes secretos da natureza: as cores, a vibração, os cristais, os aromas, os efeitos da polaridade, medicina teurgica, o significado verdadeiro do amor e a luz. Ajudando as pessoas a atingir níveis superiores de consciência. Ganhando muita influência entre as comunidades cristas. O Livro de Pedras, do alquimista medieval islâmico Jabir ibn Hayyan, é uma análise prolongada de trabalhos de alquimia atribuídos a Apolônio. Caluniado e apagado pelos Padres da Igreja, no seu tempo foi comparado com Moisés e Zoroastro. Suas teorias científicas heliocêntricas foram base no trabalho de Ptolomeu. Fundou finalmente uma escola em Efeso, onde morreu, ao parecer no ano 100. Alguns autores acham que o cristianismo primitivo incorporou muitos dos ensinamentos de Apôlinio e, que mesmo sua doutrina deu origem à quase totalidade dos ritos e símbolos do Catolicismo; que os Padres da igreja mantiveram a pesar de renegar de Apolônio pois eles se constituíam poderosos meios de persuasão, de coesão e consequente manutenção da unidade religiosa. Podemos pois considerar Apôlinio uma das primeiras e grandes pontes de irradiação e fusão do saber entre Oriente e Ocidente; assim, pois conhecer mais profundamente Apolônio de Tiana é reconhecer a verdade dialética de que todo ser humano é o produto da totalidade do passado e do presente do seu microcosmo. É saber que esse passado e presente se entrelaçam em dois “eus”, o consciente e o subconsciente; é conhecer a causa, o efeito: o carma desta interação. Através deste conhecimento de si mesmo (no micro) o ser humano atinge o conhecimento do macrocosmo, dai a famosa frase, escrita no pronaos (pátio) do templo de Apolo, em Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”

2.1 O Saber Oculto no Império     

Este conhecimento grego e oriental, passou a Roma, acrescentado pelos conhecimentos, que como essénio, a própria Roma atraiu pela sua expansão, e pela criação de seu anel de poder hegemónico, que como toda esfera irradia sua força energética, do centro a periferia e da periferia ao centro. Em 1880, num monastério budista na Índia, um reverendo inglês de nome Gideon Ouseley achou um manuscrito em aramaico, no qual se afirmava que o mesmo Cristo era um essênio defensor da reencarnação e o vegetarianismo. Em 1923, o húngaro Edmond Szekely obteve permissão para pesquisar os arquivos secretos do Vaticano, ali deparou com um livro mesmamente curioso, cujo chamativo título rezava: “O Evangelho Essénio da Paz”, escrito pelo apóstolo João, narrando passagens desconhecidas da vida de Jesus Cristo, apresentado como o líder dos Essênios. Para mas perturbação o Cristo ali referenciado, mais se assemelha a um sábio druida celta, conhecedor das propriedades de sanação dos elementos da natureza, que a personificação tão sóbria a que nos tem habituados a Igreja Católica. Olhemos uns breves passagens do mesmo: ““Buscai o ar fresco do bosque e dos campos, e em meio deles achareis o Anjo do Ar. Tirai vossas roupas e vosso calçado e deixai que o Anjo do Ar abrace vosso corpo. Respirai então longa e profundamente, para que o Anjo do Ar penetre em vós. Em verdade vos digo que o Anjo do Ar expulsará de vosso corpo toda imundície que o profane, por fora e por dentro. (…) Depois do Anjo do Ar, buscai o anjo da Água. Retirais vosso calçado e vossas roupas e deixai que o anjo da Água abrace todo vosso corpo. Entregai-vos por inteiro a seus acolhedores braços e, assim como o ar penetra em vossa respiração, que a água também penetre em vosso corpo. Em verdade vos digo que o anjo da água expulsará de vosso corpo toda imundície que vos manche por fora e por dentro (…) “E se voltar, depois, dentro de vós alguns de vossos antigos pecados e imundícies, buscai ao Anjo da Luz do Sol. Retirai vossos calçados e vossas roupas e deixai que o Anjo da Luz do Sol abrace todo vosso corpo. Respirai então longa e profundamente para que o Anjo da Luz do Sol vos penetre. E o Anjo da Luz do Sol expulsará de vosso corpo toda coisa fétida e suja que o manche por fora e por dentro. E assim sairá de vós essas coisas horrendas e imundas, do mesmo modo que a escuridão da noite se dissipa ante a luz do sol nascente. Pois em verdade vos digo que sagrado é o Anjo da Luz do Sol, que limpa toda imundície e confere ao fétido um odor agradável. Ninguém a quem não deixe passar o Anjo da Luz do Sol poderá acudir ante a Face de Deus. Em verdade que tudo deve nascer de novo do Sol e da Verdade, pois vosso corpo se banha na luz da Mãe Terrestre, e vosso espírito se banha na luz do sol da verdade do Pai Celestial.Dada a similitude do texto não podemos deixar de observar que nosso bispo Prisciliano, um dos primeiros mártires não oficiais da Inquisição (primeiro herege condenado a morte pela igreja católica, através de uma instituição civil) , junto a outros companheiros no ano 385 em Treveris… Afirmamos que sua doutrina estava mais em sintonia com a palavra de Jesus vertida em estas páginas, que a dos seus severos verdugos. Aproximadamente duas décadas e meio depois, escondidos em cavernas próximas a Qumran, no Mar Morto, em Israel, foram encontrados 813 manuscritos redigidos pelos essênios entre 225 a.C. e 68 d.C. com as cópias do Antigo Testamento, calendários e textos da Bíblia. Todo este saber de algum modo estamos seguros chegou a Roma (mas lamentavelmente não é o proposito deste trabalho realizar esta interessante investigação)

2.2. a Importância de Plotonio    

Nascido em Egito, no ano 204. Cidadão do Império romano, seus magníficos trabalhos explicam entre outras causas de vital importância para humanidade: a existência do mundo físico e espiritual, a viagem de saída da alma do corpo após a morte física, a existência do Uno transcendente e sen multiplicidade nem distinção.O Não-ser (Parabramam) de onde todo surge. Resumo da sua filosofia metafísica são suas ultimas palavras: Procurai sempre conjugar o divino que há em vós com o divino que há no universo.

 

3. Os Povos Germanos    

Mas para chegar a compreender algo do que aconteceu com Prisciliano e todos os gnósticos perseguidos da Gallaecia, da Hispânia e do Império, é preciso compreender a viragem que o cristianismo deu em Nicéia.

3.1 Século IV – O Concílio de Nicéia.     Em este Concílio se criou uma doutrina absolutamente antibíblica e pouco espiritual, para forçar as pessoas a aceitarem a autoridade do Pontifice Máximo, o Imperador, seus bispos e sacerdotes. Assim o imperador Constantino abraçou a fé cristã, em trocas da cúpula da Igreja converteu-se, por sua vez, ao poder imperial. Ficou depois a Roma Papal herdeira da Roma Imperial. A velha igreja de Cristo, tornou-se a igreja dos césares. A missão imperial foi impor um dogma acerca das origens do cristianismo, que lhe permitisse construir os parâmetros duma nova doutrina religiosa, que a tornaria na igreja oficial do Império.   Aqueles que resistiram contra o mesmo, deviam ser tratados como inimigos duma igreja, que por este novo acordo de Nicéia, fora fusionada ao cetro imperial. Esta jogada permitiu a Constantino alargar no temporal e terreno a vida do Império no Oriente em mais de mil anos. Ao tempo os Padres da nova igreja ganhavam o estatuto de mediadores entre o homem e Deus, retirando-lhe aos seres humanos a potestade da conexão direta com Deus.   Sabemos hoje, pois que o verdadeiro Cristianismo está impregnado de valores tomados de anteriores tradiçoes espirituais, tanto ocidentais como orientais, desde a celto-druídica ao Zoroastrismo persa, passando pela doutrina hermética egípcia, à doutrina Essênia, e as sabedorias sintetizadas por Pitágoras, Socrates, Platão na Grécia, o budismo na Índia e outras. Verdades únicas, nascidas da fonte primordial, que fortes resistem em sua raiz, o passo milenar do Ciclo Escuro ou Khali Yuga. Verdades que vem a luz nos ciclos de ouro, e são ocultas e transmitidas “para aqueles que tem ouvidos para ouvir” nos ciclos de escuridão.

3.1.2 Prisciliano –   Prisciliano tentou voltar a essa essência cristã, que enlaçava o saber primitivo celta com o novo saber chegado do mediterrâneo, através do essénios, e que segundo a mitologia galaica, foi o saber que fusionou Santiago o apóstolo, quando a Rainha Lupa o deixou pregar na Kalaika – nome céltico da Gallaecia – depois de ter ultrapassado as dez provações impostas pelos druídas, na montanha sagrada do Pindo. O priscilianismo recuperaria, entre outras, a ideia celta e universal da triplicidade ou constituição tripla do Homem: Corpo, Alma e Espírito. Em concordância coma grega Physis ou Soma (Corpo) – Psychê (Alma) – e Nous (Espírito). Ou a indiana Sthulopadi (Corpo Físico), Sukshmopadhi (Corpo Anímico) e Karonopadhi (Corpo Espiritual). Sendo que a Alma ou Suksmophadi representa o liame plástico de interposição, a vez que de ligação, entre a parte física do ser humano e seu corpo espiritual.  Muitas tradições falam também de que esse saber druídico foi fusionado com o cristianismo verdadeiro, na França por meio do filho de Maria Madalena e Jesus, chamado José, que seria educado numa escola druídica; e Jose da Arimateia, na sua chegada a Grã Bretanha, carregando consigo a luz do Graal…  O famoso rei Artur, poderia ser uma personagem da época da chegada dos germanos a Ilhas e a perda do poder Imperial na mesma, com a queda definitiva do muro de Adriano e uma nova aliança entre os Pitos celtas e os romanos cristianizados. O priscilianismo foi também muito significativo na recuperação do culto feminino, a volta a relação de igualdade na igreja e no cristianismo, que as mulheres tinham perdido quando apagada a voz de Maria Madalena, por parte de Paulo e Pedro. Não era pois de estranhar pois Prisciliano nascera em Iria Flávia – local galego cultuado a deidade feminina (muito presente no imaginário coletivo galaico, dado o mesmo nome de Kalaica, significar literalmente: Terra Mãe ou Mãe Terra, segundo estudos dos membros do Instituto galego de Estudos celtas, Prof. Higino Martins Esteves e Prof. André Pena Granha, decano de dita instituição).

3.2.3 Viragem em favor dos “bárbaros”     Em 378 a batalha de Andrinopla (na atual Edirne Turca) marca um giro definitivo nos acontecimentos do Império romano, a ideia duma Roma capaz de conter os bárbaros se desmorona, com a morte do próprio Imperador Valério no combate; prenunciando o colapso do Império Romano de Ocidente. Poucos anos depois em 410 os mesmos visigodos saqueiam a capital romana. Por 476, quando Odoacro depôs o imperador Rómulo Augusto, este já não exercia um poder militar, político ou financeiro significativo, e seu controle efetivo sobre os dispersos domínios ocidentais adescritos ao Imperior era relativo.   No entanto é sobre a base do próprio império romano, que se vão edificar os diretos jurídicos, sociais e políticos de todas as sociedades ocidentais; pelo que nós acreditamos os germanos dominadores, que seriam o novo povo elegido para levar adiante um novo centro geográfico universal (que todavia perdura na forma de civilização ocidental) construíram estes alicerces sobre a base cultural grega, celta, egípcia e oriental já assimilada pela cultura grego romana. E ainda que deformada em sua aparência, continuava viva na sua essência; simplesmente era preciso para o observador com visão mais subtil, retirar os véus escuros que encobriam, como nuvens o sol do do meio-dia.

 

4. A Idade Media

A Idade Media considerada, apenas há pouco tempo, como uma época de trevas e escuridão, tanto no nível do desenvolvimento científico-tecnológico, como espiritual; tem que ser revisada agora a luz de novos descobrimentos, que trazem um pouco mais de luz sobre este período.

Enquanto os germanos estão a preparar seu centro Europeu, ainda o continente chocado pela queda do Império Romano, deixará passo ao Islão como novo centro geográfico, capaz de resguardar e impulsionar o saber retirado tanto do ocidente grego romano, como do oriente e extremo oriente; dado o mesmo Islão ser uma ponte entre a Europa e Ásia.

4.2 Século XII

Entre o século VIII e o século XIII, o Islão vai expandir sua espiral evolutiva, afiançando seus domínios e requintando seu saber e expressões culturais, ate definitivamente ficar em declínio.

O século XII, vai ser um século de conexão, de novo entre ocidente e oriente, servindo de plataforma o contanto do Islão, que começara a decair, e transmitirá parte de seus conhecimentos ocultos para o Ocidente Europeu, que a partir de ai, começara a crescer e expandir sua espiral evolutiva ate nossos dias.

O Al-Andalus, na península Ibérica vai ter uma importância vital, nesse transferir conhecimentos do Oriente para o Ocidente. Com a queda do Califado de Córdova no ano 1031, os novos reinos de Taifas, vão trazer como fator positivo a concorrência cultural dos diferentes reinos, no intuito de mostrar seu poder e riqueza; no aspeto negativo a degeneração, perda de poder político, dissolução paulatina do Estado, vai trazer consigo abuso do poder sobre os humildes (na forma de cobrança de impostos abusivos), degradação no vício da elite, desunião e fragilidade em face dum poder cristão em processo de fortalecimento. Em este contesto, no entanto nasceram as figuras mais importantes do pensamento espiritual na península Ibérica. Mas como bem disse Samel Aun Wer, no seu Tratado de Psicologia Revolucionária: “O desenvolvimento da Essência só é possível à base de trabalhos conscientes e sofrimentos voluntários”. Dai muitas vezes os períodos mais duros serem os de melhor semente, e também os de melhor colheita.

4.2.2. Ibn Al-Arabi

Nasceu em Murcia, no Al-Andalus, em 1165. Foi um dos grandes homens ascensionados do mundo islámico. Estudou em Mosul, atual Iraque, com Ibn Al-Jami, de que se dizia ser discípulo direto do Khidr, o “Mestre Oculto” ou “Profeta Verde” uma personagem a que faz referência o mesmo Al-Corão. Sendo que em alguma das suas pasagens o podemos ver como guia para o próprio Moises, ensiando-lhe algumas posturas e atitutdes em relação ao verdadeiro conhecimento. No famoso encontro, entre Ibn Al-Arabi e o reconhecido médico Averroes, fica claro a diferencia do conhecimento nascido da racionalidade analítica de Averroes e a razão que cresce desde o olho do coração místico, o famoso Kashf, ou o desevelar no olho das realidades espirituais, de Ibn Al-Arabi.

Ibn Al-Arabi afirmava que seu primeiro encontro com os “Homens do Mundo Invisível” foi com Jesus. Antes de partir definitivamente de Hispania caminho do Oriente, ele confesa que se voltou para Deus com total presença, e que logo à seguir lhe foi mostrado tudo o que iria acontecer interna e externamente, no resto da sua vida. “Então eu embarquei para dentro do mar, com visão e certeza. O que já tinha acontecido já tinha acontecido, e o que estava por vir, estava por vir, sem defeito ou deficiência”.

A beleza pura é sempre fugidia,

para que sua formosura não ofenda

(verso dum poema de Ibn Al-Arabi)

      1. Jalal ad-Din Rumi

Jalal ad-Din significa literalmente “Majestade da Religião”; e Rumi tem signifição de “o romano”, pois ele viveu grande parte da sua vida Anatólia, que foi parte do Império Bizantino.

Tendo como objetivo ensinar o caminho do amor divino, Rumi, escreveu o Masnavi, grande obra que conduz gradualmente ao despertar do deus interior, a paz profunda, ao Nirvana.

Nove são os passos que discipulo deve concretizar antes de atingir esse resultado:

  1. O estado do homem imaturo (ou cru, ou materialista);
    2) O despertar;
    3) Os desejos e a busca;
    4) O aprimoramento da alma através da indiferença para com as riquezas do mundo;
    5) O amor;
    6) A devoção e a submissão;
    7) A perplexidade e a necessidade de um guia espiritual;
    8) A observação de Deus em cada fenômeno; e por fim
    9) A unificação.

Diz-nos Rumi em dos seus belos poemas:

Deus te joga de um sentimento ao outro
e te ensina por meio dos opostos,
de modo que terás duas asas para voar,
não somentes uma”

4.2.4 Al-Khwarizmi

Ainda que Al-khwarizmi nasceu no 780 (em Khiba – Uzbequistão), não é ate precisamente o século XII, que seus trabalhos sobre numerais indianos e o sistema posicional de numeração decimal, são introduzidos definitivamente na Europa. A mesma palavra algoritmo deriva de seu nome. A palavra álgebra, deriva do árabe Al-jabr, uma das formas de operação que Al-Khwarizmi usava para suas equações quadráticas. Salientar, que dentro da importância histórica da civilização islâmica, como conservadora do saber greco-latino e ponte de transmissão do saber do Oriente ao Ocidente, cabe destacar o trabalho de Al-Khwarizmi sobre o calendário hebraico, e o ciclo metónico dos períodos orbitais da Terra e a Lua.

4.2.5 Fibonacci

Em 1170 nasce em Pisa Leonardo Bigollo, mais conhecido por Fibonacci, que se tornaria com o passo do tempo o grande matemático europeu da Idade Média. Em 1202 escreve o Liber Abaci, que introduz precisamente o numerais indo-arábicos na Europa. Este livro é fruto entre outras cousas do seu aprendizado em Constantinopla sobre as obras de Al-khwarizmi, Abul Kamil e outros mestres árabes. Um dos seus maiores contributos a famosa Sequência Fibonacci, que hoje em dia, alem de suas aplicações na analise de mercados financeiros ou na ciência da computação, é importante para descobrir a relação de certas configurações biológica,s como a disposição dos galhos das árvores, as peltas dalgumas flores como o girassol, a forma dos Nautilídeos, da pinha… Abrindo atualmente uma ponte de conexão mais entre ciência e espiritualidade.

4.2.6 São Francisco

Em 1182 nasce em Assis São Francisco, personagem muito importante na transmissão e fusão do saber espiritual entre o oriente e o ocidente. Segundo o filosofo e académico membro do IGESIP, José António Lozano, ele obteve permissão do mesmo Saladino para predicar em seu Império. Dele dizia Saladino ser o dervixe do Ocidente. Dante Alighieri falava dele como duma “luz que brilhou sobre o mundo”. Sua transcendência espiritual estava fora de toda dúvida, suas visões e sonhos marcaram o caminho da sua vida ascética. Nos seus estados de meditação e contemplação eram-lhe revelados secretos do presente e do futuro, assim como os pensamentos de dúvidas, desejos e tribulações de seus irmãos.

Não devemos esquecer A oração atribuída a São Francisco de Assis plena de inspiração amorosa. Em ela destacam a maneira pela qual a alma quer trabalhar para ser um instrumento de paz, a atitude da alma que empreende esse trabalho, e finalmente a convicção de que o esquecimento de si mesmo conduz à união com o Eterno, o Uno.” Diz a teosofa russa Ana Kamensky, acrescentando que O santo, que conhece a Lei, “acende a luz”, isto é, faz o esforço necessário no plano espiritual. Começa por combater o ódio, colocando-o em presença da mais poderosa das forças espirituais, a do amor.

Frente ao amor, o ódio perde sua força destruidora e se desfaz. Como conseqüência dessa lei, Cristo disse: “Amai vossos inimigos, bendizei aqueles que vos maldizem, fazei o bem àqueles que vos odeiam e rogai pelos que vos maltratam e perseguem”.

O mesmo disse Buda: “O ódio nunca vence o ódio; o ódio só pode ser vencido pelo amor”.

4.2.7 Joaquim de Fiori

Em 1132 nasce, em Calábria, Joaquim de Fiore, grande defensor do milenarismo e do advento da idade do Espírito Santo. Peregrinou a Terra Santa, fez um ano de contemplação e meditação no monte Tabor, na Galileia (onde segundo os evangelhos teria ocorrido a grande transformação de Cristo) e se converteu num grande místico. Seu contributo é muito importante para entender a historia toda a história da Europa a partires deste século XII. Suas obras nos mostram uma visão profética das Sagradas Escrituras. Sua interpretação dos três estádios, ou Idades da História, no desenvolvimento do Mundo e da Igreja, correspondentes às três Pessoas da Santíssima Trindade, formaram a base do moderno milenarismo que infiltrará o pensamento europeu posterior desde as ordens templárias, ate o protestantismo ou mesmo o socialismo.

Os primeiros a colher esse ideal como próprio serão os padres franciscanos. À seguir os Cavaleiros Templários, teólogos, filósofos, aventureiros, reformadores e mesmo o inspirador Paraíso comunista, vão beber direta ou indiretamente, das fontes proféticas bíblicas, e mais concretamente do pensamento apocalíptico essénio, e da sua transformação em ação de esperança futura, por parte de Fiore. Os poemas de Bacon, a A doutrina dos três estados de Comte, a dialética progressiva de toda a realidade de Hegel, por citar alguns exemplos. Os cristãos passaram a constituir o tempo de forma trinitária, concebendo a história de forma trinitária e o transcurso da historia, o sentido da vida e o mesmo homem também voltam a triandade; algo que traz ao inconsciente a lembrança dum corpo, alma e espírito em um. Igualando esta perspetiva com toda sabedoria iniciática de qualquer cultura. O que na atualidade permite uma psique crista que ajuda a realização ecuménica e a unidade das culturas do planeta na essência comum.

4.2.8 São Bernardo de Claraval.

No século XII o Islão dominava quase toda a Península Ibérica, o Norte da África ou Magreb, Oriente Médio o Norte da Índia, e a rotas do Indico e mar vermelho, além do controle marítimo das especiarias e a seda. Pela contra a Europa todavia se achava bastante fragmentada, e com um papado frágil. Bizâncio ainda tinha um relativo poder, pelo que o domínio do Islão no mediterrâneo era quase total. Idear, pois uma forma de levar à guerra ao coração do mundo islâmico enfraqueceria muito a pressão deste poder sobre a Europa, este foi, sem dúvida, um dos grandes logos geoestratégicos de São Bernardo, ao criar a ordem dos cavaleiros templários. Detrás delas um ideal místico se escondia.

5. Os Cavaleiros Templários

Na ordem templária as ideias de Fiore, se misturam com as lendas do rei Artur, sir. Percival e o Graal, as ordens monasticas de São Bento de Nursa, e visao geopolítica de São Bernardo. Este movimento, segundo muitos autores, havia de influenciar alguma das escolas iniciáticas mais importantes no futuro do Ocidente. Sendo pois também berço dos conhecimentos fusionados entre o oriente e ocidente, que haveriam de servir de semente de muitos movimentos sociais, políticos, culturais da Europa e também da América. Duas hastes poderiam ter-se desenvolvido a partir desta Ordem de cavalaria: uma ao norte onde daria a maçonaria do rito escocês (que poderia mesmo ter influenciado a Independência dos Estados Unidos) e outra ao sul, em onde os cavaleiros templários teriam tornado o velho Porto Calem ou Porto dos calaicos, no novo Porto Graal ou Porto do Grial.

5.1 Os Cátaros

Afirma Carlos Antonio Fragoso Guimarães, seu trabalho intitulado A Igreja de Roma e o Movimento “Herético” dos Cátaros: “os cátaros acreditavam na doutrina da reencarnação e reconheciam Deus não como um princípio com traços antropomórficos puramente masculino, mas como tendo, igualmente, princípios femininos. Na verdade, Deus estava bem acima das limitações do entendimento humano (o que nos remete, em parte, à doutrina dos Druídas, Pitágoras e Platão). Tanto que os pregadores e professores das congregações cátaras, conhecidos como parfaits, eram de ambos os sexos. Sendo o ser humano ciração e filiação da divindade, as polaridades masculinas e femininas não seriam antagônicas, mas complementares, e, portanto, igualmente importantes.” “Seu principal texto teológico era o Evangelho de João e um outro texto que eles chamava de o Evangelho do Amor. Ao mesmo tempo, rejeitavam veementemente a autoridade da Igreja Católica e negavam a validade das hierarquias clericais, ou de intercessores oficiais entre Deus e o homem. Diziam eles que não encontravam em parte alguma dos Evangelhos justificação para a estrutura eclesial romana. No centro desta oposição residia um pincípio extremamente importante: a fé só é real se vivida e sentida como como uma experiência mística direta, sem passar por uma segunda mão. Além do mais, a única fé real era que que produzisse obras, e os cátaros ficaram famosos e adquiriram imensa popularidade pela ação social que promoveram no Languedoc, dando tratamento gratuito de saúde e educação a todos, e sendo tolerantes com membros de outros credos, inclusve judeus, que viviam em paz na região” De novo os ideais essénios voltam à tona, e o cruzamento oriente – ocidente, tem em eles o maior dos sentidos. Ainda que estintos pela igreja, o germe de seu amor prevalece como raíz, no inconsciente coletivo da bondade humana. Sua obra não foi em vão.

6. Pre-renascimento

Todas estas tendências libertadoras, em tempos escuros, tem de ser escondidas, a causa das perseguições dos intolerantes. No entanto apesar de ser apagada sua visibilidade, elas de algum modo forjam futuros movimentos que se opõem a essas tendências opressoras, ainda que às vezes depois ao triunfarem, voltem cair nos pecados que pretendiam corrigir. Isto é devido também ao carma coletivo ainda não estar preparado para chegar a fase da libertação e ainda tem de percorrer caminhos extremos entre opostos, para poder experimentar o grande sofrimento, que nos obrigue a trilhar a senda do meio: do perdão, da compaixão, a visão clara da ilusão e a procura da verdade. Será em esta luta de opostos que a reforma protestante veio surgir. A situação política provocada pela guerra dos 100 anos, a peste negra, as guerras contra o poder Islâmico, vão provocar um descontentamento geral, que traz os primeiros sinais de afastamento da sociedade europeia com da cúria romana. A critica velada aos abusos do clero e defesa da necessidade de uma purificação da moral e dos costumes, encontra seu primeiro eco visível na figura de John Wyclif, que no século XIV contesta a autoridade do clero na Inglaterra e o pagamento da dízima. Mais a frente a figura de Erasmo de Roterdão não fez senão dar maior luz a esse sentimento, anunciado defintivamente a chegada o homem renascentista, que vem sendo forjado desde o século XIV num movimento do renascer, do que é clássico, ou antigo, para o novo em oposição ao que é velho, ou seja Escolástico. Esse humanismo do século XV e XVI, afunde suas raízes na volta as fontes grego – romanas, pelas que jorra, sem saber, as fontes do Egito e oriente.

6.1 Jan Hus   Como afirmava Jan Hus, antes de ser queimado na fogueira inquisitiva: “Hoje assais o pato (em alusão ao nome Hus, que significava pato), mas amanhã virá um Cisne de Luz, que voará tão alto que vossas labaredas não o alcançarão!”

6.2 Thomas Müntzer  Já em 1490, nasce Thomas Müntzer, cuja vida será curta mas intensa. Sendo sua figura a do grande milenarista de inícios do renascimento, com pontos de contacto com a doutrina anabatista, a luta contra o poder terreal de Roma, as reivindicações sociais dos camponeses, a ideia dum novo homem espiritual, o torna um profeta empenhado em construir o Reino de Deus na Terra.

As Influências Hoje

Todas estas achegas e muitos outras, que se desenvolveram na Europa através dos séculos, durante a Era de Peixes, vão ir cristalizando em diversas etapas, de avanço – evolução e retrocesso – involução, cuja essência desenvolvida pela atividade humana darão ao Ocidente Europeu o centro material terreno ate finais da Segunda Guerra Mundial. Foi por meio dos conhecimentos ocultos, nascidos da essência Una, que de todos os grandes movimentos culturais, sociais e políticos da Europa, tiveram lugar. Desde o Renascimento, ao século das Luzes ou Iluminismo, pasando pelo Romantismo, ate os inícios do século XX, e as grandes descobertas da Física Quântica (que abrem o caminho a confraternização entre ciência e espiritualidade). Chegando a nosso novo milénio, um milénio em construção dum novo centro, ponto de confluência da espiral invertida em contração do domínio material Ocidental; com a nova espiral em expansão com predominância futura, tanto no material como espiritual, para o hemisfério Sul.

A Europa terá agora que saber de novo ser ponte (ponto de confluência), das novas e ricas experiências da humanidade, em seu passo de transação ate esse novo centro geográfico, situado na América do Sul, com centralidade para o Brasil, um povo cujas raízes – são emanadas de todos os cantos do orbe. E pelo tanto deve irmanar precisamente todos os cantos do orbe.