Por ARTUR ALONSO
O maravilhoso livro “O Evangelho de Sri Ramakrishna, nos monstra a seguinte parábola:
“No Nirvikalpa samadhi Sri Ramakrishna havia concretizado que somente Brahman é real e o mundo ilusório. Ao manter a mente durante seis meses no plano de Brahman não-dual, havia atingido o estado de vijnani, ou de “conhecedor da Verdade”, num sentido muito especial e rico, aquele em que vê Brahman é não apenas em si e no Absoluto transcendental, mas em tudo no mundo. Nesse estado de vijnani, às vezes alheio à consciência do corpo, ele se olhava como uno com Brahman; às vezes, consciente do mundo dual, olhava-se como um devoto do Todo, servo ou filho. A fim de tornar o Mestre capaz de trabalhar para o bem-estar da humanidade, a Mãe Divina manteve nele um traço de ego, que descreveu – segundo seu estado – como o “ego do conhecimento”’ o “ego da devoção”, o “ego de um filho”, ou o “ego de um servo”. Em qualquer um desses casos, esse ego do Mestre, consumido pelo fogo do Conhecimento de Brahman, era apenas aparente, como uma corda queimada. Muitas vezes referia-se a esse ego como o “ego maduro” em contraste com o ego de uma alma apegada, que descrevia como ego “não maduro” ou “verde”. O ego de uma alma apegada identifica-se com o corpo, parentes, posses e o mundo, mas o “ego maduro”, iluminado pelo Conhecimento Divino, reconhece que o corpo, parentes, posses e o mundo são irreais e estabelece uma relação de amor somente com a Unidade. Através do seu “ego maduro”, Sri Ramakrishna lidava com o mundo e com a esposa. Um dia, enquanto massageava seus pés, Sarada Devi perguntou ao Mestre: “O que você pensa de mim?” Logo veio a resposta: “A Mãe que é adorada no templo é aquela que deu nascimento ao meu corpo e, aquela que está agora morando no nahabat; é aquela também que está massageando meus pés nesse momento. Na verdade, sempre considerei você a personificação da Bem-aventurada Mãe Kali.”
Eis aqui o plano superior da Unidade, com o qual ao exemplo do grande Ramakrishna podemos fundir-nos, naquele estado beatifico de Plenitude total. Mas também observamos aqui, o segundo plano intermédio da Grande Mãe – como mediadora entre essa Plenitude total – Paz Completa, e o necessário trabalho, a realizar no 3 Plano – Físico, seja para continuar nosso percurso evolutivo ate a obtenção desse poder unificador, que nos eleve a luz.; ou, bem, para já tendo atingido esse poder, como o mesmo Ramakrisnha, servir de guia, caminho, exemplo, para ajudar a humanidade a percorrer o caminho certo.
Por outro lado vemos esse soberano feminino, divino e universal, refletir-se também na mulher terrena, como em este caso, na companheira de Ramakrishna.
Eis aqui pois, os três aspetos da Deusa Feminina: Mãe Cósmica, Mãe Natureza, Mãe Humana. Mas também, cada um desses três aspetos, desdobrando-se de modo tríplice também – dado o tríplice ser também ser uno, no Plano Maior – onde tudo se, precisamente, se une. Assim podemos observar no Evangelho apócrifo de Filipe, a definição de mulher – como Mãe, Companheira e filha. Do mesmo jeito vemos a deusa feminina celta – como A donzela, personificação do verão e a exuberância (no verão se realizam as bodas de Lugh – a Terra Mãe casa com o Espírito Solar, na altura em que a colheita está pronta); segundo como a anciã, personificação do inverno – interior e exterior, e terceiro a Deusa Mãe, personificando a força geradora, redentora e manutentora.
A importância pois de recuperar o feminino, tem a ver com a recuperação desta tríplice chama. Mas por outro lado, sabendo o feminino ser a ligação com conteúdo – o recipiente simbólico que recebe a semente, que recebe o poder espiritual, que promana do primeiro plano, faz-se urgente descobrir esse caminho. Esse ocultado mistério que – liga, este primeiro plano com o plano material do filho e da filha – aquele da realidade física.
A perda do feminino significa, pois, em certo modo a perda – deste continente, o qual impossibilita reter o conteúdo, em este caso o conteúdo ou o poder espiritual. Mas também o verdadeiro poder físico – vivendo somente no dar, sem receber, como servos escravos. Ao invés de ser-vo ou ser em voó: ser livre.
Vamos aqui a explicar um pouquinho um dos aspectos simbólicos, da famaosa taça graal – ou taça que cotem o líquido sagrado do graal: o poder de receber feminino.
O feminina é a taça, continente – o masculino reflete ao líquido, conteúdo.
O Feminino fermente, gesta, que recebe e guarda a semente para dar-lhe a vida espiritual, do mesmo modo que lhe dá, a semente fermentada, a vida física.
Eis, que com a perda da taça, do poder feminino – do sacerdócio feminino, os humanos seres tenhamos perdido, o continente para reter a semente espiritual, e o útero – taça, para gestar, despertar, acordar nosso poder interior, espiritual e físico.
Dizem que no 325 d.c. O Imperador Constantino I, o sagaz conselheiro Lactancio e Eusebio de Cesareia, no Concílio de Niceia, deram o golpe definitivo, que levavam anos preparando, não somente para criar um cristianismo acorde aos interesses imperiais da Nova Roma, senão também para a retirar do imaginário coletivo, o poder feminino, da nossa alma liberta. Conseguindo concretizar finalmente a consolidação do desharmónico Patriarcado (anida vigorante) – material e religioso. Impunemente.
Já anos antes as controversas figuras do Apostolo Pedro e Paulo de Tarso, tinham apagado a figura da sacerdotisa feminina, Maria Madalena ou Maria de Migdala; iniciando esse longo caminho de negação do Sagrado Feminino (segundo apontam diversos estudosos, como Amy Welborn, em “Decoficando Maria Madalena”; ou Margaret Starbird, em “Maria Madalena e o Santo Graal”). Divindande feminina tão importante para o amadurecimento espiritual, a realização natural e o equilíbrio psicológico entre mulher e homem. Vital para tender pontes entre as funções masculinas e femininas, tanto no que respeita a natureza, como aos seres humanos.
Hoje, esses aspectos homem – mulher, mulher-homem, tão controversos e mesmo enfrentados, quando na realidade são em comunhão – comum união, complementares. Dualidade emanada da unidade – Inteligente Univeral, da que todo promana. Dualidade complementária expressão precisa para o mesmo entorno florir de vida. Pois é na mistura do masculino e feminino, na fusão desta aparente contrariedade, que toda a natureza cria sua exuberante rede infinita (semrpe e quando seus ciclos de regeneração sejam respeitados).
Esse poder feminino em gestação, realizador, mesmo provocador, estava muito bem representando na nossa cultura e tradição celta – e na Sagrada Terra Galaica, berço dessa civilização, que durante a era do Carneiro ia dominar todo o Continente Europeu, sendo a tónica evolutiva do seu tempo, antes que na Era de Peixes, Roma em Início e depois, os povos germanos, comandassem o novo modelo de evolução, hoje já em decadência. Em Aquário à procura dum num novo Centro Geográfico, para uma nova oceánica civilização, que trazer-nos-á uma nova tendência, no processo sempre cíclico da complexa evolução humana.
O modelo feminino celta, contraposto ao anterior modelo feminino grego, ou mesmo ao coetâneo romano, e depois ao posterior cristão – está de novo a vibrar forte dentro de nós, pois todos e todas precisamos ativar nossa taça griálica, para receber, em nosso interior enriquecer, com o intuito ético de dar, uma vez desse amor cheios. Dar aos demais (espelhos de nós mesmos) todo esse amor, dentro de nós, no nosso íntimo feminino gerado, por meio da grande sabedoria – a Sophia ou Pistis Sophia, dos gnósticos. Aquela que se inicia, quando Yeshua sobe aos céus, para receber novas vestes.
Começando a verdadeira instrução dos discípulos, que ate esse momento somente tinham sido acomodados até as regiões, mais próximas, do primeiro mistério. O evangelho de Maria Madalena, nos monstra, no entanto àquela sacerdotisa feminina como possuidora já dessa sabedoria, sendo por isso a preferida do Mestre. Situação que levantava os ciúmes dos homens, sendo o mais zangado o próprio futuro Apóstolo Pedro. O qual não deixa de reforçar a ideia do ignorante falso patriarcal, de apagar, por medo, o sagrado feminino.
Esse medo, também no aspeto físico, era mostrado pelos cronistas romanos, sobre as mulheres celtas. Assim escreve Amiano Marcelino: “Estas mulheres são, geralmente, fortíssimas, tem os olhos azuis, e quando se enfureciam, fazem ranger os dentes, e movendo os alvos braços com força começam a aplicar formidáveis socos, acompanhados de terríveis pontapés”. Versão que reafirma o mesmo Júlio César, ao comentar: “Uma mulher celta zangada é uma força perigosa a qual haverá que temer, já que não é raro que lutem unidas a seus homens, e às vezes, melhor que eles”. Por sua vez, Plutarco relata com admiração, a façanha da celta Kinimara, que tinha cortado a cabeça do homem que a violentou.
Os valores da mulher celta, eram mais abertos e permissivos que os da mulheres romanas, mesmo no aspeto de desenvolver seu poder sexual. Liberadas da hipocrisia do sexo ao serviço dos homens. As mulheres celtas de grande sabedoria formavam um estamento druídico poderoso, conheciam a poesia, a arte e eram estudadas em escolas iniciáticas de grande conhecimento (ao igual que os druídas durante 21 anos – 7 para os saberes do corpo, 7 para os alma e 7 para os espírito).
A mulher tinha estatuto, ganho, de ser superior, igual que o homem em vontade e atividade; e isso era refletido no cortejo romântico, onde o homem tinha que tratar a mulher como esse ser espiritual evoluído que era, com admiração e respeito.
Como nos explica magistralmente Mirella Faur: “Um dos conceitos celtas mais difíceis de compreender e aceitar – pela nossa cultura cristã e a mentalidade atual – é a associação dos arquétipos sagrados femininos com a guerra. Para transpormos barreiras conceituais devemos conhecer o princípio celta da soberania da terra, sempre representado por uma Deusa Mãe com características protetoras e defensoras. A vida e a sobrevivência dependiam da terra e por isso ela devia ser preservada e protegida, pois desrespeitar a terra e a soberania de um povo significava ofender e ameaçar a própria natureza criadora da vida. A soberania – o verdadeiro poder de quem governava e conduz os destinos de um povo – pertencia a um arquétipo feminino, a própria Deusa da Terra, com a qual o rei ou governante devia casar simbolicamente para garantir a prosperidade e paz. O casamento do rei com a Deusa da Terra representava as condições indispensáveis para que a soberania manifestasse: respeito, igualdade, confiança, parceria e solidariedade. A representante da Deusa Soberana era uma sacerdotisa ou rainha imbuída de poderes especiais, que até mesmo podia ser divinizada, como se conclui das lendas de Macha, Maeve e Boudicca. Nos mitos aparece de forma metafórica o alerta sobre as conseqüências da opressão, violência e exploração da natureza e da mulher, com os inerentes desequilíbrios, a falta de prosperidade e do convívio pacífico”
Daí que a soberania celta feminina, represente o equilibro que atinge a paz (Esse caminho ou Plano Meio, entre os dous Planos: Superior e Inferior). Mas como na árvore sefirótica da vida – não pode haver harmonia, se amor e rigor, não estiver em equilíbrio. Dai a mulher celta ter também um aspeto guerreiro, rigoroso, ligado a proteção e preservação da vida, contra os depredadores da natureza, do povo, dos seres.
Ao tempo que um grande aspeto transformador, que mediante o amor, sara as feridas e fraterniza de novo a comunidade – comum na unidade – depois de extirpado o mal que tentava inserir a semente da morte.
Hoje, a predação da Mãe Terra, faz mais preciso que nunca a revindicação da Essência feminina, e recuperação do nosso Poder interior feminino – Taça do Receber – para gerar de novo a Exuberância, dentro de nós, da nossa consciência e na natureza. Algo, que começaremos gestando de novo a paz, a força e o amor dentro de nossa feminina alma. Alma onde o espírito da luz, se resguarda e protege, com a força do útero comunicardor, cerco, protector, forteleça.
Ter acesso a sabedoria feminina, que nos foi retirada, pelo falso patriarcado é o um primeiro passo, no rumo certo.
Finalmente, quem sabe, se a recuperação desse poder associado da Deusa- Mae, no amor – sabedoria, nos poderia levar, a cumprir aquela bela profecia de Miqueías (século VIII a.C).
Refletida como benéfica visão, bênção, onde o poder feminino da torre de Magdal-Eder (Madalena?), torre do rebanho, ajuda a mudar a humanidade. Pois destinada é a trazer a Nova Jerusalém, da Paz ou Salem, que será afirmação real, quando todas as nações do mundo sejam capazes de transformar todas suas espadas em relhas de arados. Reconciliando-nos com essa nossa interior e exterior divindade, feminina e universal, numa aliança ecológica de seres vivos – Terra – humanidade, que nos permita, de uma vez por todas, acabar com o terrível ciclo das guerras.
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