por RHICARDO RIBEIRO

A ideia de perfeição que secretamente os Homens trazem já dentro de si tem levado filósofos e pensadores de todos os tempos a conceber a ideia de uma Sociedade Humana verdadeiramente avançada. Não apenas avançada em tecnologia, intelecto ou mesmo em valores mas, digamos, cristalizando todos esses atributos numa organização Social que traga o Bem-Estar de todos, a Harmonia dos Homens com os seus semelhantes e com o seu contexto, de tal forma que o Viver resultasse numa agradável aventura de crescimento pessoal e coletivo, em que cada um pudesse ser aquilo que realmente é, exercer a sua capacidade de criador livre sem se limitar a ritmos e vivências que não estejam em afinidade directa com o íntimo de cada individuo ou de cada Sociedade.

Aqui se defende que o verdadeiro conceito do que se possa conceber como Governo Sinárquico, como organização social síntese, não se refere apenas a uma Sociedade governada por sábios em que a moral íntegra e a ética sejam ingrediente intrínseco das políticas públicas e a ciência esteja ao serviço do bem-estar humano, mas sim a uma organização social profundamente harmonizada com aquilo que são as Leis Universais e com as características bem próprias e irrepetíveis que cada Povo e que cada Homem trás dentro de Si. Por este motivo, o princípio Governativo Sinárquico não pode ser retratado por um único modelo, mas por princípios gerais que devem ser moldados a cada contexto particular . Cada povo, cada cultura goza de uma identidade única e é nela que cada povo tem de se cumprir.
Henrique José de Souza no enorme legado escrito que compôs durante a sua existência apresenta justamente que o Universo, como entidade única e indivisível, se desdobra numa bailado de dinâmicas, como que se de uma dança se tratasse. Das acções harmónicas com o fluir dessa dinâmica resultaria o bem-estar ou Eubiose – a vida vivida no Bem, no Bom e no Belo. Das acções contrárias, que se opõem ao fluxo natural da Vida Inteligente que permeia todo o nosso Universo ou contrárias à natureza dos povos e dos indivíduos numa determinada região ou contexto particular, resultaria precisamente o oposto, o sofrimento, que mais não é que um reajuste do próprio Universo como um Todo a um evento desarmónico com a sua dinâmica natural.
Quais então as características gerais da Vida Universal que um determinado sistema governativo deve respeitar para com a mesma ser harmónico de tal forma que de uma tal organização social resulte o bem estar geral de um povo ou sociedade?
Ensina-nos a antiga tradição teosófica, sintetizando em si os valores das mais avançadas culturas que se têm desenvolvido no nosso globo, que os números 1, 3 e 7 vibram em toda a parte.
O número um (1) remete para a unidade fundamental de todas as coisas. Indica que tudo o que existe, existiu ou existirá comunga de uma Essência Una manifestada numa infinidade de aspectos diferentes. Neste sentido os vários indivíduos ou os vários povos são células de um mesmo organismo. Cada uma destas células possuiu uma função bem definida, um contexto seu particular, e todas elas no seu conjunto se articulam no seio dessa Vida Universal que é em Si, Vida Inteligente, Natureza Suprema resultado da conjugação das várias naturezas individuais. Por este motivo cada individuo ou colectividade de indivíduos deve encontrar o seu lugar, o seu jeito de Ser no seio do grande contexto Universal, sem ter de se igualar a outro individuo ou colectividade que se encontre num contexto diverso do seu e sem rivalizar com outros indivíduos ou sociedades que, devido a se encontrarem num contexto diferente, possuam diferentes necessidades, diferentes funções como células dessa Realidade Una Universal e diferentes formas de viver.
Com respeito ao conceito de Unidade, do Uno (1), convém observar que, para além dessa Vida Una Universal da qual todos nós participamos, o próprio individuo (ou conjunto de indivíduos) trás consigo o conceito de unidade, em que a variedade não é mais que um desdobramento pluricelular da sua natureza ou Identidade Fundamental. É este o significado último do conceito pitagórico de mónada, ou identidade fundamental de um Universo Menor (Individuo ,Povo, etc.) que, cumprindo-se, cumpre também um quantum ou porção da identidade fundamental de um Universo Maior do qual é parte integrante, indissociável e indispensável.
Assim, o Bem-Viver, a Eubiose é consequência de um Estado Sinarquico, que respeita a identidade Una, ou Natureza Fundamental do Individuo, de um Coletivo ou Sociedade, articulando-a com a Natureza Fundamental Maior da qual todos participam.

O número três (3) encontra-se expresso como propriedade fundamental de manifestação de tudo o que existe. Como breves exemplos apresentamos: o acorde perfeito é conjugação de três notas musicais, as cores primárias também são três, um plano é definido por três pontos no espaço e, as diversas culturas e teogonias, cada uma com a sua própria linguagem, apontam o mesmo como se pode observar nas trindades patentes nas variadíssimas religiões e filosofias do mundo: Pai, Filho e Espirito Santo; Horús Isis e Osiris; Taulec, Fan, Molec; Kether, Kochman, Binah; Budha, Dharma, Sangá; Shen, Chi e Ching, etc.
Desta forma, o Estado Sinárquico (Uno) deve estar organizado em torno de uma tríade governativa. O Chefe de Estado deve ladear-se de dois vultos complementares segundo as características dessas mesmas três forças que as várias teogonias, cada uma a seu jeito, apontam com sendo a característica fundamental da manifestação da Vida Universal: em bom Português: Vontade, Amor-Sabedoria, Actividade.São as mesma colunas J e B que se encontram nos templos maçónicos – uma referindo-se ao intelecto e, de certa forma ao Rigor; e a outra referindo-se à emoção superior, o Amor (aos Povos, à geração, ao Progresso) – para que essas duas influências conjugadas em torno da figura central do estado concorram para que a mesma seja expressão da Justiça, do Perfeito Equilíbrio e da Neutralidade, ou seja, um reflexo da própria Identidade Universal, manifestada de um modo particular.
Por último observemos o número sete (7). Voltando às cores e aos sons fazemos notar que são sete as notas musicais e sete também as cores em que a luz branca (Una – Um – 1) se polariza quando sujeita a refracção provocada por gotas de água (arco-íris) ou por um prisma. E mais uma vez, nesta matéria, as diversas teogonias apresentam a manifestação da vida como um fenómeno de evolução setenária: daí os sete Arcanjos da igreja católica, os sete Dhyan Choans Superiores do hinduísmo, entre outros.


Ensina ainda a tradição sintetizada na Teosofia que, das sete etapas evolutivas que concorrem para o desenvolvimento de um Universo (maior ou menor tanto vale), apenas quatro de encontram perfeitamente desenvolvidas. O desenvolvimento do Homem não se encontra ainda completo, ou seja, a Humanidade encontra-se na quarta etapa do seu desenvolvimento setenário.
Como “reino em desenvolvimento” (não completamente desenvolvido), é natural da Sociedade Humana, caminhar de experiência em experiência até alcançar um estado de Neutralidade, ou de Harmonia Perfeita no qual o Governo Sinárquico será a forma natural da organização social. Até lá o Capitalismo, o Comunismo, o Fachismo e todos os regimes que as nossas Sociedade têm atravessado são como as experiências menos maduras de um adolescente que só alcançará a verdadeira maturidade através destes seus próprios ensaios.
Por se encontrar o Homem na quarta etapa de um processo setenário encontram-se manifestadas, segundo António Castano Ferreira, apenas Quatro Categorias Humanas (quatro de sete). São elas os Intelectuais, os Governadores, os Mercadores e os Servidores.

Vamos caracterizar cada uma destas categorias em que, cada individuo estará mais ou menos enquadrado:
Os Intelectuais são o génio criativo e inspirador das Sociedades Humanas. Não nos referimos nesta categoria aos académicos, mas sim aos verdadeiramente Filósofos, aos Sábios, aos Sacerdotes, aos verdadeiramente Inspirados. Os indivíduos pertencentes a esta categoria apresentam alguma dificuldade em viver a vida mundana, em lidar com assuntos de cariz prático. Muitos vivem nas suas bibliotecas, nos seus laboratórios de ideias. Numa Sociedade Sinárquica estes indivíduos ocupam a posição de Mestres e Professores mas também de Conselheiros dos Governadores. A sua natureza não lhes fornece elementos para que possam Governar ou dirigir um colectivo, mas possuem antes uma visão ampla, um horizonte maior que se estende acima do que os restantes podem perceber. São a luz da candeia que indica o caminho a seguir. Não têm ambições materiais excessivas e são incapazes de se organizar na empresa de gerar riqueza, da mesma forma que a realização de tarefas simples lhes é completamente monótona e eventualmente castradora.
Os Governadores são os dirigentes da Sociedade Sinárquica. Possuem personalidades fortes e, não raras vezes, compleições físicas de grande porte. Não possuem a visão ampla dos Intelectuais e, por isso, devem rodear-se de um conselho em que estes sejam componente fundamental. Possuem elevado senso de Justiça e são capazes de a administrar, possuindo o direito de usar a força no cumprimento das suas funções. Amam o povo e a civilização que governam, possuindo a capacidade de sobrepujar a compaixão geral que trazem dentro de si quando a aplicação da justiça se faz necessária. Os verdadeiramente Nobres, Guerreiros e Dirigentes encontram-se nesta categoria.
Os Mercadores são os responsáveis pela construção das várias infraestruturas que constituem as Sociedades Humanas. Não prezam mais que o próprio crescimento e o lucro egoísta, se bem que, no caminho que realizam para alcançar riquezas, erguem pilares materiais de importância fundamental para o funcionamento das cidades. Veja-se o caso do próprio Portugal na empreitada dos Descobrimentos que, motivada em boa parte pelo interesse mercantil, constituiu a porta para a formulação de uma nova ordem mundial a longo prazo, bem com o sustento das centenas de famílias que se viam envolvidas em todo o processo.
Os Servidores são os mais capazes na realização das tarefas simples. A sua vitalidade e identidade não saem diminuídas no exercício de tarefas rotineiras. Não possuem o rasgo da inspiração pura dos Intelectuais, a capacidade de perceber e administrar justiça dos Governadores ou a estratégia mercantil dos Mercadores, e vivem bem com uma vida simples em que sejam garantidos os valores de segurança, subsistência e respeito.
António Castanho Ferreira na sua monografia reservada, a Série D, apresenta ainda que os motivos da degradação das Sociedades Humanas dos nossos dias, deve-se em grande parte a uma inversão no posicionamento que cada uma das categorias humanas deveria ocupar. O capitalismo selvagem resulta de alocar às posições dirigentes, às posições de poder, os Mercadores onde na realidade se deviam encontrar Governadores. Os Mercadores não possuem o Amor e Respeito pelos povos que caracteriza os Governadores, desta forma os povos e as nações passam a ser mobilizados em função de ambições egoístas e desmedidas, resultando daí as várias formas de escravatura que arrastam os Homens e os povos para longe da sua identidade original roubando-os ao bem estar da Eubiose. Da mesma forma não respeitam nem reconhecem o papel orientador dos Intelectuais e, com isto, se rompe toda a possibilidade de progresso positivo e a harmonização dos Homens e Povos com o meio Universal e com os seus semelhantes.
Interessante ainda notar que, segundo o mesmo Ferreira, o comunismo corresponde a colocar Servidores na posição que devia ser ocupada pelos Governadores, com consequências igual ou superiormente desastrosas para o Edifício Humano.
Da mesma forma que os sois devem ocupar o seu lugar bem próprio no centro dos sistemas solares, o Bem-estar Humano a que aspiramos quando pensamos num Sistema Governativo Sinárquico, ou seja, o que conduzisse a um viver harmónico de todos com todos e com o seu contexto, também num tal sistema a pedra fundamental consiste em garantir a cada individuo um posicionamento adequado em Sociedade, de tal forma que o mesmo se possa desenvolver livremente no meio que lhe é mais próprio.
Note-se que o conceito das quatro categorias humanas e o que o mesmo sugere em termos de Organização Social Sinárquica é apenas um posicionamento geral dos indivíduos agrupados em quatro categorias – quatro de sete – que apesar de extremamente apropriado não leva ainda em consideração a multiplicidade de características de que um individuo ou povo possam ser dotados. De facto confluem nos indivíduos e nos povos vários desígnios porque, para além de um individuo poder integrar esta ou aquela categoria humana, cada individuo é um verdadeiro Universo em toda a sua complexidade e dinâmica.
Neste sentido, num sistema Sinárquico, é importante observar a população, adequar a organização social através de medidas que nasçam directamente do que se pode concluir por observação directa dos indivíduos e do que sejam as suas características, motivações e vocações. Permitir depois que se desenvolvam segundo essa mesma trajectória, traçada em primeiro lugar pelas inclinações de cada um.
O fundamental neste aspecto é: a pessoa certa no lugar que lhe é mais próprio e que lhe proporciona as melhores condições para o seu desenvolvimento e para o exercício da força criativa que representa como integrante de um universo maior.

Mas então: Como identificar no individuo ou num determinado colectivo humano as características suas, bem próprias, que deve preservar e esforçar-se por desenvolver para que seja harmónico com o seu principio criativo original?
Existem diversos indicadores que permitem avaliar o que possa ser o papel de determinado homem ou povo no seio da grande dança cósmica.Os mesmos identificam também, segundo o que temos vindo a explicar, quais os elementos que poderão ser fornecidos ao individuo ou à nação para que se desenvolvam livre e completamente. Um desses indicadores é a Vocação.
Vocação, Vocato – Chamado, Chamamento.
Por vocação entender-se-à toda a tendência natural do individuo (ou do povo) a uma determinada aptidão física, intelectual, emocional, ou metafísica. Nascer com especial aptidão (vocação) para a musica, para a escultura, para o apaziguamento de conflitos ou para a comunicação oral é ser chamado a cumprir um papel no grande teatro da vida universal lançando mão desses recursos. Por esses motivos apresenta o filósofo argentino Silo: “Se estás em posição de viver, vive.”.
Identificar a Vocação, as Características Intrínsecas de um determinado individuo ou povo é descobrir a chave para o seu desenvolvimento, pois a vocação é a marca indelével do chamamento para que o individuo ou o povo se cumpram desta ou daquela maneira.
Quais as características de Portugueses e Galegos que representam a sua Identidade Última, fora da qual dificilmente caminharão para o Estado Sinárquico?

A história conhecida de um povo é feita de registos vários que muitas vezes não são suficientes para a caracterização das verdadeiras raízes desses colectivos.
Neste sentido a marca mais viva que possa existir da cultura e da historia de um determinado povo reside na Língua com que o mesmo se expressa. Com efeito a Língua de um povo esta impregnada de toda a sua cultura, de todas as formas de pensamento que ao longo dos tempos têm feito parte do processo evolutivo desse colectivo humano.
As raízes dos povos do norte de Portugal e da Galiza, por toda a sua similaridade linguística, de cultura, permitem notar os traços comuns, como por exemplo a ligação que estes povos têm ao Mar, ao Comercio e ao viver em Comunidades Cooperantes. O respeito por estes valores, pela natureza profunda do intímo destes povos é fundamental ao estabelecimento de uma organização social superior que designamos por Estado Sinárquico. Da mesma forma o desenvolvimento conjunto do factor linguístico, como factor cultural síntese, através do aumento e promoção de interacções entre estes povos irmãos, poderá trazer aos mesmos uma ampliação da consciência da sua Identidade Última, do seu papel no Mundo, concorrendo para que se desenvolvam através de uma organização harmónica com a Natureza Universal expressa nas suas próprias características, aptidões e traços culturais.
Por tudo isto defendemos que o Desenvolvimento Cultural e a Restauração da Identidade Última dos povos da Galiza e do Norte de Portugal, através das suas valências, inclinações, da sua língua e da coscientização do papel criador que podem exercer no Mundo proporciona de per si, uma aproximação das suas comunidades à Harmonia Fundamental que caracteriza a Sinarquia, sendo de igual forma fundamental para o desenvolvimento e bem-viver das suas gentes.

Como caminhar para esse estado de Bem-viver individual e coletivo, partindo do momento atual, em que o Mundo se encontra atordoado por conflitospermanentes e degradação dos valores fundamentais que sustentam o Bem, o Bom e o Belo? Como chegar ao Estado Sinárquico e à Eubiose geral partindo deste ponto?

Dois caminhos, duas pedras fundamentais para que se atinja uma terceira coisa, a Sinarquia Eubiótica:

Primeiro, a restituição do individuo, como célula primeira das Sociedades Humanas, à sua verdadeira Identidade, permitindo que se desenvolva livre, e livre seja criador de novos mundos dentro do próprio Mundo.
Segundo, a regeneração dos laços entre os individuos, entre as famílias e entre as variadíssimas organizações que trabalham abenegadamente por um Mundo melhor. Trabalhar em rede, reunindo como que num mesmo organismo, as diversas células que trabalham para cumprimento de um mesmo propósito, cada uma a seu jeito. Em síntese: A Regeneração das Comunidades Humanas lembrando que “o sonho que se sonha sozinho é tão somente sonho, ao passo que o sonho que se sonha em conjunto se torna uma realidade”.
Sobre o primeiro ponto, o primeiro caminho, temos visto a importância de cada individuo, cada comunidade, cada povo ou país, se posicionar de acordo com a sua Identidade Fundamental, o seu traço de Ser, que pode ser revelado pela observação das habilidades intrinsecas ou vocações de cada um. Um exame atento ao que se É e ao que se vive para Ser.
Convém no entanto acrescentar que a restituição dos povos à sua Identidade Última, não fica presa à mera possibilidade de um dia florescer um regime, uma política qualquer, que milagrosamente restituisse os homens e os povos aos seus profundos propósitos criativos, levando assim ao aparecimento da Eubiose no seio das Sociedades Humanas.
De facto, restituição dos povos à sua Identidade Última torna-se uma realidade mais próxima sempre que uma das suas células, um indivíduo, uma família, um clã ou organização, se decidem a ir ao encontro da sua própria natureza, à realização do seu próprio Ser.
O Bem-estar e o Bem-viver sociais dependem do Bem-estar e do Bem-viver individuais. A realização de um povo ou colectivo bebe da realização das suas células mais elementares, os indivíduos.
Por seu lado cada indivíduo, cada homem, pode aspirar e dirigir-se a essa realização total de tudo aquilo que É e vive para Ser, sem para isso ter de aguardar o aparecimento de melhores dias para o mundo, de melhores políticas ou de um milagre que proporcionasse a regeneração expontânea do seu povo. Qualquer homem pode dirigir-se ao caminho do seu superior bem-estar e da sua profunda realização no mundo, sem para isso esperar que o ambiente envolvente melhore. Ao contrário o ambiente melhorará em consequência do melhoramento do indivíduo. A Família, os Amigos próximos e as várias organizações e coletivos humanos de que participa saem aumentados pela aproximação do indivíduo à sua Identidade Fundamental.
Este primeiro caminho sugere-nos portanto a Regeneração da Sociedade Humana através da Regeneração do Indivíduo, restituindo-se ele mesmo a Si próprio e ao seu mais fundamental propósito de existência.

O segundo caminho para a Sinarquia, passa pela articulação dos vários indivíduos, ou células fundamentais das sociedades, uns com os outros, formando agrupamentos menores com os quais possuem afinidade e, estes agrupamentos, reunidos por sua vez em agrupamentos maiores seguindo a mesma Lei da Afinidade – também ela uma Lei Universal que faz com que individuos ou conjuntos de individuos com propósitos semelhantes, tenham tendência a trabalhar em conjunto ou a relacionarem-se de uma maneira geral.
Observamos, nos nossos dias, uma fratura generalizada dos laços entre os indivíduos. O paradigma característico das sociedades modernas tem conduzido mais e mais ao isolamento: o individuo está cada vez mais isolado dentro da sua família; a família (desta feita inexistente) cada vez mais isolada dentro da sua comunidade; a comunidade (desta feita inexistente) cada vez mais isolada do seu povo; o povo (desta feita inexistente) cada vez mais isolado do seu país; e o país cada vez mais distanciado do seu papel no Mundo.
Como tivemos oortunidade de explicar no início desta reflexão, Todos fazemos parte de uma mesma Identidade Única Universal, somos células de um mesmo organismo, rodeadas por celulas afins com as quais nos temos de relacionar e das quais dependemos. O agrupamento de celulas que nos é mais próximo e que possuiu sua função e traço bem próprios, relaciona-se e depende dos outros agrupamentos que o rodeiam. Por tudo isto não é de todo possível realizarmos os valores que podem conduzir ao bem estar geral se não abraçarmos a nossa relação com os nossos semelhantes e as funções que temos que desempenhar nos vários colectivos humanos dos quais somos parte integrante e indispensável.
No entanto, no Mundo em que vivemos é possível observar que nem todo o tipo de relações entre coletivos humanos está comprometida. Num mundo dominado pelos interesses das grandes coorporações, estes grupos e organizações esforçam-se por manterem-se articulados uns com os outros. A Finança, a Política, os Media e os Grupos Empresariais (os Mercadores dos nossos dias) estão extremamente bem organizados entre si, cooperando, complementando-se e constituindo os alicerces das dores do velho mundo perpetuando a decadência das Sociedades Humanas tal e qual a temos presenciado.

Por outro lado, as instituições e organizações que trabalham em sentido construtivo, rumo a um Paradigma Humano mais Harmónico e proveitoso para os Homens, existem e em bom número. Cada uma delas com o seu foco particular de trabalho. Grupos de homens e mulheres disponibilizando os seus esforços para trabalhar num certo melhoramento, por uma certa causa. Acontece porém que essas organizações, cada uma trabalhando no seu canto, não se articulam entre si, não se relacionam nem se auxiliam como acontece com as organizações danosas que, por bem se organizarem, governam ocultamente o mundo dos nossos dias e condicionam a nossa relaidade individual comprometendo o Bem-viver das Sociedades Humanas.
Imaginemos agora um Mundo diferente apenas neste sentido: em que a variedade de organizações que diáriamente trabalha por um mundo melhor estivesse bem organizada entre si, cooperando e, apesar de cada uma trabalhar da forma que lhe é mais própria e de acordo com a sua identidade fundamental como colectivo, trabalhando numa direcção geral comum aos valores de todos, ao que os une e que os motiva ao ímpeto construtivo. Imaginemos um Mundo onde houvesse uma tal coordenação das organizações e dos indivíduos que trabalham pela regeneração do nosso Mundo e que uma tal organização, existindo, fizesse face à realidade criada pelo grupo organizado de mercadores que atualmente decidem a vida dos povos.
Um dos exemplos da História de Portugal em como a coordenação de homens e associações conduziu a uma completa alteração no estado social, foi o papel da sociedade secreta Carbonária Portuguesa na Implantação da República.
A organização da Carbonária Portuguesa tinha como célula fundamental um grupo de 5 indivíduos a que se dava o nome de Canteiro – como se pode observar a Carbonária reveste-se dessa imagética dos Lenhadores, do Carvão que se fazia nas florestas, etc. Então o Canteiro, constituido por 5 homens (os bons-primos) elegia um representante e atuavam desenvolvendo acções de carácter local ainda que sempre de acordo com as diretivas gerais da organização. Quatro Canteiros formavam uma Choça (que correspondia portanto a um agrupamento maior coorespondente ao total de 20 individuos). A Choça elegia também o seu representante. O conjunto de 4 Choças formava uma Barraca. A Barraca (80 Carbonários, ou Bons-Primos) elegia também o seu representante, o Mestre de Barraca. O conjunto total dos Mestres de Barraca formava a Venda, e a Venda elegia um Dirigente, que após eleito nomeava um conselho auxiliar. O Dirigente e o seu Conselho constituiam então a Alta Venda, que era o topo de hierarquia da Carbonária Portuguesa.
Os grupos menores, os Canteiros, trabalhavam localmente e as suas acções tinham relação direta com as necessidades e os contextos dos bairros e dos pequenos povoados. A Choça, mais abrangente geográficamente, trabalha diretamente ligada às acções e problemas gerais das pequenas e médias cidades. A Barraca constituindo um agrupamento maior, trabalha ao nível regional e transmite as directrizes e avanços definidos pela Venda às Choças e aos Canteiros para que os mesmos possam desenvolver as suas acções operacionais de acordo com essas diretrizes gerais segundo a realidade local de cada bairro, cidade ou região. A Venda e a Alta Venda, definem a direcção dos avanços e as directrizes gerais que orientam a acção coordenada do movimento carbonário como um todo.
Em Portugala organização secreta Carbonária chegou a contar com mais de 40.000 homens, e foi a principal responsável pela revolução que proporcinou a Implantação da República. Depois de realizados os seus objetivos, desfez-se. Por algum tempo os carbonários ainda participaram da vida política do país mantendo a organização, mas em pouco tempo, por terem sido alcançados os objetivos principais do movimento, a organização desapareceu.
Repare-se em como a organização da antiga Carbonária Portuguesa está de acordo com o que temos vindo a expôr sobre a própria Ordem do Universo: as suas células básicas constituem pequenos grupos que integram celulas maiores. As funções a acções das células menores, os Canteiros, são mais especificas e muitas vezes de cariz local, agindo no entanto em conformidade com a direcção geral de avanço definida pela organização como um Todo.
Para que um organismo funcione as suas células tem de estar articuladas entre-si. É por este motivo que o verdadeiro conceito de liberdade nunca é o da completa independência, mas o da inter-dependência livre, em que os vários indivíduos, povos e nações cooperam e trabaham num mesmo sentido construtivo respeitando acima de tudo a sua Identidade Fundamental revelada quasi-sempre pelas suas vocações gerais, motivações e história.
É por este motivo que a a regeneração do tecido social e comunitário assume uma importância maior na formulação de um Estado Sinárquico. As cidades devem ser vivas e o que lhes confere a vida são as relações que se estabelecem a nível humano e social. Por outro lado, a construção de um Estado Sinárquico depende da organização e cooperação dos homens e associações que trabalham sob o estandarte dos mais elevados valores humanistas.
Organizar os vários grupos que, já por si, trabalham por um Novo Paradigma que traga melhores dias à Humanidade e que o fazem de forma desapegada. Organizá-los num mesmo organismo síntese, extremamente operativo e que respeita os contextos, motivações e àreas de atuação de cada célula menor.
O que conhecemos da história da Carbonária Portuguesa sugere precisamente isso, que os indivíduos podem conduzir a uma alteração do estado social organizando-se entre si segundo os seus valores e afinidades. Numa visão última o estabelecimento de uma organização entre todas aqueles individuos ou associações que trabalham diáriamente por um Mundo melhor, cada célula atuando o mais possivel de forma operativa e efetiva, pode conduzir ao erigir de uma frente de Regeneração do próprio Homem e do Mundo, fazendo frente à degradação dos povos e aproximando o florerscimento de um Estado Sinárquico.

Será bom também recordar, em jeito de conclusão, que compete a Todos nós, os que se identificam com estes valores, a realização prática de todos estes ideais. Muitas vezes, quando o idealista se choca com a realidade do Mundo, tão diferente do ideal que sonhou, quando alguns dos seus ensaios preparatórios saem falhados, ele pode tender a assumir uma posição passiva ou meramente intelectual, sem se permitir a si mesmo realizar a transformação no mundo que só os sonhos que carrega podem propiciar. O educador brasileiro Ruben Alves defendida que cada homem é um sonho encarnado. Cumprindo-se o Sonho, Cumpre-se o Homem.