Arturo Alonso Novelhe

“Somente quando extinta a luta entre o Corpo Mental e o Corpo Emocional, é que a totalidade do ser pode ser imbuída da “Inspiração dos Deuses”, chamada de musa inspiradora, ou Neshamah… estando situada acima daquilo que é chamado de abismo ou Daath (na árvore da vida), cujo outro nome é conhecimento” (A UNIDADE DA TRADIÇÃO – Oxi Ziredo)

 

A dualidade, encarada como luta pela sobrevivência no mundo de guerra, impõe o exercício contínuo da violência, através do poder do mais forte. Esta atitude cria no ambiente coletivo um clima de desconfiança mutua e no plano individual psicológico uma espécie de patologia neurótica. Realidades ambas derivadas da contínua concorrência, na maior parte da humanidade (oculta baixo o véu da aparente normalidade). Tirando toda a sociedade do verdadeiro conceito de Universalidade Criativa.

Esta manifestação permanente de estado de guerra – concorrência, com o se conseguinte modelo virtual (é mesmo material) de premio para os ganhadores, prestígio, trunfo; derrota para os perdedores, desprezo, fracasso… Lastra nossa consciência natural de abundância e saúde; pela inserida consciência condicionada da doença – precariedade.

Pensamento – palavra – e ato (verbo em ação) nasce, nos nossos dias, dentro dum espírito revoltado apegado a sensação de guerra – imposição. Gerando, pelo tanto, consequências que tendem a impulsionar círculos reativos e ciclos de catástrofe – crise impossíveis de parar.

Esta situação ativa forças centrífugas e centrípetas, que em épocas históricas de decadência, degradação sistêmica e transação à procura de novos modelos de organização social; alimentam perigosamente as diversas contradições que ficaram adormecidas no interior do (agora) velho sistema.

A crise econômica respectiva vive ligada, pois a crise energética, ecológica, geopolítica, social, de valores… E estas a sua vez se ligam umas às outras numa espiral destrutiva que contagia todo os órgãos e tecidos do modelo de dominação, sobre o qual se assenta o sistema.

Incapazes de reconhecer o erro – acelerando, pela contra, a neurose coletiva de guerra – medo, receio do diferente (encarado como adversário), sublimamos o poder ególatra primitivo de procura de abrigo. Elevando o medo atávico à morte e despejando à humanidade no lixo escuro da história. Na atualidade está tendência pode conduzir, de não lhe opor um rápido remédio, a destruição parcial ou total numa provável Grande Guerra; com possíveis derivações no uso de armas atômicas.

O único caminho real para mudar esta corrida passa por aquilo, que dentro do IGESIP (Instituto Galego de Estudos Internacionais pela Paz) denominamos de trisquel ativo, ou tripla unificação (de aquilo que demos em chamar opostos – sendo em realidade complementares): Ciência – Ecologia – Espiritualidade.

 

A tripla ação: Compreensão da Unidade Total do Ser Humano – por meio dum trabalho continuado de introspecção e observação da própria natureza do ser, sem apegos, nem visão ególatra.

Compreensão da Unidade Ser Humano – Natureza – por meio da perspectiva mais ampla da unidade no corpo universal, dentro da própria teia que gera a vida (sempre em interligação permanente, através do processo de nascimento, maturidade e reciclagem pela ação da morte. Morte pois como princípio duma nova vida e um novo ciclo).

Compreensão da Unidade entre os Povos – através da essência comum das culturas, etnias e raças; que tecem e enriquecem a grande madeixa do patrimônio imemorial da humanidade.

E dizer a Tripla Consciência do Uno em Três – principio de apertura para criar a multiplicidade, por meio da União da Mente (tanto coletiva como individual), União do Coração (centro dos batimentos emocionais) e União do Espírito (Centro do plano subtil mais transcendente).

Esta realidade da unidade tripla ou “trisquel” que desenvolve o principio criativo nos permite participar, desde uma nova perspectiva, daquela mudança global pela que tantos seres humanos bons e gêneros tem sacrificado suas vidas. Uma realidade nova de mudança da experiência física, psicológica e sensorial do mundo escuro da guerra e o medo a não sobrevivência. Em trocas encontrar-nos-emos com uma nova realidade de harmonia, ajuda mutua e inter-relacionamento igualitário com o médio que nos rodeia (e os seres vivos que também forma parte dele).

Uma nova interpretação baseada na cooperação entre povos e espécies diversas, diferentes, mas convergentes. Visionando os seres que nos rodeiam como espelhos que nos mostram outras realidades, enriquecendo-nos. Uma nova ótica de colaboração não interessada, longe do apego material e as condutas distorcidas (muito arraigadas ao medo pela sobrevivência); graças a um desenvolvimento vertiginoso nas áreas cientificas e tecnológicas, que deverão ser agora acompanhadas por um desenvolvimento no campo da pisque humana (desde o homo sapiens sapiens ate um novo homo mais holístico; que poderíamos denominar de homo integrador ou homo consciente).

Este desenvolvimento holístico deve ser definido, não só como um todo maior em importância que as partes (seguindo a premissa aristotélica) senão com uma abordagem terapêutica – no referente ao indivíduo – na qual os elementos emocionais, mentais, espirituais e físicos formam um mesmo e interligado sistema. E no referente ao planeta os diversos elementos do sistema desenvolvendo-se mutuamente em simbiose.

Tudo com o intuito de desenvolver um plano elevado que vise compreender como a natureza cria sua teia da vida, para harmonizar, adequar e favorecer este processo – da forma mais conveniente e adequada a cada caso. Tendo em conta todos os interesses – sem que uns primem por cima dos outros (no caso atual os puramente econômicos).

 

Desenvolver dialogo permanente entre as partes, mesmo entre espécies – dados os avanços cientifico- tecnológicos que a dia de hoje nos permitem saber, entender e em certa forma, escutar as necessidades da própria natureza. Desenvolver o conhecimento mútuo entre os povos, culturas, realidades… Abrindo o coração ao encontro com a diversidade – para fomentar a confiança necessária. Confiança que gera mecanismos adequados para construir um novo planeta cheio de vida e afastado definitivamente da destruição coletiva (própria do velho período de guerras).

Todo sistema é como um pequeno cosmo – uma diminuta galáxia, um pequeno sistema solar gravitacional. Na fase embrionária de desenvolvimento a energia irradia do centro ate criar uma estrutura que atinge sua máxima expansão, esplendor, uma vez consolidado seu círculo de poder ou anel energético. O sol central irradia continuamente energia (em forma de espiral expansiva) ao resto dos astros que giram a redor dele.

Mas nos momentos de involução, decadência e fim – se produz um efeito revote contrário de absorção de energia e contração. Em seu momento de maior atividade esta involução negativa provoca uma espécie de implosão e, pelo tanto, consequente criação duma sorte de buraco negro que tudo engole (em forma de espiral invertida); ate a desaparição paulatina de todo o sistema.

Em está altura nós estamos na fase final dum sistema mercantilista e materialista – cujo sol está na ultima etapa de combustão. A energia sistêmica representada pelo mundo mercantilista das finanças e sua irradiação de riqueza monetária por todo o sistema – em forma de liquidez creditícia, encontra-se em profunda involução – recesso.

Na sua tentativa de irradiar mais energia da que materialmente pode gerar seu sol, a avareza dos homens atingiu o momento de inversão natural do processo cíclico. Em consequência acontece o nascimento daquele imenso buraco negro que, como um tenebroso vórtice em forma de espiral invertida toda riqueza devora. Não tem paragem – e a única solução para travar a extensão do cancro que ameaça com ruir todo o edifício levantado pela humanidade, passa precisamente pela mudança mesma do sistema.

Mas o problema surge aqui, uma vez mais, do estado de guerra.

Em um mundo em continuo confronto as mudanças também são feitas através do recurso primaria ao combate – vitoria – imposição. O vencedor aplica unilateralmente o novo modelo, o derrotado fica inserido dentro deste novo organograma, segundo as normas do vencedor. No entanto em um planeta rodeado de armas atômicas está não parece ser a melhor das opções. Apesares ante a falta de confiança mutua, dentro das dinâmicas de guerra – concorrência, não existe outra saída; a não ser que a sociedade tome partido e mediante a expansão consciente da esperança na paz, mude o contexto.

 

Imprescindível, pois para a humanidade em esta dificílima tessitura criar, organizar ou reformar um novo movimento pacifista mundial. O IGESIP pretende achegar seu grauzinho de areia, para alçar essa montanha imensa que a humanidade deve levantar em favor da paz.

Na nossa altura evolutiva os novos avanços (em todos os campos) permitem a o ser humano criar abundância continua; conexão instantânea em redes de saber globais: conhecimento compartilhado ao alcance de todos e todas. De ser capazes de criar um clima de dialogo permanente e confiança (ultrapassando o modelo guerra – adversário); poderíamos criar um modelo igualitário de toma de decisões conjuntas, através duma governança mundial democrática e equitativa – que permiti-se as diversas sociedades avançar devagar (cada uma a seu ritmo) ate um novo modelo nascido do principio holístico de interconexão e mutua dependência das partes. Considerando cada organismo do sistema como igual em importância. Fugindo daquele anterior sistema lineal hierárquico da guerra, ate um sistema circular, multidimensional e interdependente na procura da paz. Na experimentação duma sociedade futura de consciência e conhecimento, onde todos possam compreender que o desenvolvimento de cada individuo contribuiu para o desenvolvimento do conjunto de indivíduos.

Onde o respeito pela evolução dos outros, nasça do respeito e amor, de cada um a si mesmo. Onde por fim a humanidade possa desvendar o véu que oculta a realidade da guerra ser, a todas luzes, desnecessária. A experimentação de milênios de luta, sofrimento e violência, deveriam já ter-nos levado a essa conclusão. Mas se ainda não tivermos suficiente de seguro acontecerá uma guerra tão terrível, que se no melhor dos casos, se uma parte da humanidade sobreviver à mesma – ficará de tal forma gravada no ADN das gerações futuras – que a partir de aqui a humanidade, durante talvez milênios, fugira definitivamente do absurdo confronto e a via do sofrimento.

Por médio da observação continua da natureza, da ampliação da capacidade tecnológica e conhecimento paulatino do funcionamento da rede da vida; as sociedades futuras poderão descobrir e aplicar os princípios energéticos que permitem a homoestase e interação criativa de exuberância, própria das florestas mais dinâmicas. Impulsionando a germinação de vida e abundância – ultrapassando finalmente a errática visão de escassez, própria dos sistemas de guerra – imposição – violência permanente.

Assim esta mudança psicológica (expansão da consciência individual e coletiva) – permitirá compreender os verdadeiros valores implícitos em todo principio de amizade e colaboração; que visam sem duvida o enriquecimento mutuo.

A flexibilidade permeável que impregna toda a rede da vida – facilitando diversas interações e diferentes percepções dum mesmo fenômeno; que se bem no passado de guerra resultavam contraditórias e mesmo ameaçadoras do poder estabelecido, agora reverteram em novas formulas abertas múltiplas soluções e múltiplas focagens (desde diferentes ângulos) duma mesma realidade.

Escapar da estreita olhada lineal – onde o espaço forma parte da dinâmica territorial encadeada a concorrência – com seu nefando perceber méritos obtidos pelo outro, como apoderar-se, usurpar, conquistar e expulsar dum único território (àqueles que eram concebidos como derrotados: perdedores) – deixa de ter sentido dentro numa nova dinâmica social mais solidaria e igualitária. A abertura mental ao conceito multidimensional, que passa a perceber a realidade como interconexão de diversos espaços de expansão; onde cada ser pode evolucionar, enriquecer-se, criar e multiplicar-se: multiplicando a sua vez a riqueza de todo o conjunto; fará o resto.

Todo ser humano é um campo ativo de ideias e a materialização das mesmas, só pode resultar em mais valia para toda a sociedade. Em cada ser uma espiral energética funciona, no modo anteriormente explicado de expansão e contração. Alimentar a expansão da espiral humana e aceitar a contração (caminho inverso produto da reciclagem natural), que hoje tanto tememos e denominados com pavor de morte; serão sem duvida pontos de inflexão muito importantes dentro da psique individual e coletiva, que permitirão a chegada duma nova alvorada: numa nova e verdadeira Era de Renascença.

Tirar, minorar, diminuir a energia dum ser – por meio da pressão forçada – limitando sua potencialidade e suas capacidades, induz um mecanismo acelerado da inversão de sua espiral energética, que traz irremediavelmente doença física e psíquica.

Esta forma de agir atinge também ao opressor – pela lei da continuidade e interligação dos processos – fomentando no dominador praticas negativas, associadas à maldade, ódio, ressentimento. Criando fortes desequilíbrios emocionais, que somaticamente reproduzem doença física e psíquica. De maneira que o ignorante que não pode entender que seu crescimento depende do crescimento dos seus congêneres – tanto humanos como dos outros seres vivos que fomentam e engrandecem a teia da vida – não estará em condições de dar o salto quântico preciso para a realização duma nova sociedade.

Os grandes financeiros que condenam povos inteiros a mais sôfrega das misérias, serão a sua vez atingidos pela mesma força – em reação contrária – enchendo seus estômagos de escuridão, insalubridade, morte e pesadas cargas psicológicas; que não poderão substituir com seu acomodo material.

A ignorância destes princípios e leis, nascidas do autista comportamento ególatra de imposição – guerra – medo à sobrevivência, está a por em causa a mesma continuidade da própria raça humana. Se pela contra nossos ritmos estiver mais em sintonia com os ritmos naturais (ciclos circadianos), que a sua vez vibram dentro da imensidão das frequências cósmicas; nossa vida em este planeta seria virada a o prazer abundante, comedido e bem entendido, de viver no paraíso e realizar o que os grandes mestres como Buda ou Cristo denominavam de caminho do meio: o caminho que transita entre as polaridades, com equidistância e aceitação – não se apega aos prazeres fundindo-se na sensualidade; nem experimenta aversão ante o sofrimento encerrando-se em couraças imaginarias.

Despertar nosso interesse pela vida, a natureza, a formosa criação – traz consigo o despertar da nova consciência. Apreender a escutar nosso entorno, aumenta a necessidade de acalmar nosso interior revolto – nascido da preocupação guerreira de saciar continuamente nossos desejos neuróticos. Um ditado taoista diz: “o Ser Supremo fez ao homem com dous ouvidos e uma boca, para que escuta-se o duplo do que fala”.

A felicidade consiste, pois numa espécie de retorno, perdão, expiação do pecado original (aquele que fez Adão cair no sonho – aquele sonho que distraiu Gilgamesh enquanto a serpente fugia com a planta da vida eterna…). E dizer voltar a conectar-se com a realidade ampla e universal, através de observação presente e continua da natureza a nossa volta. Natureza que não é senão um microcosmo, unido à imensidão cósmica. Afinal nosso corpo tomou sua forma desta mesma natureza – e seu processo de vida está encadeado a esse mais amplo processo vital de ecossistemas interligados.

Acreditar na visão errada de predomínio dos mais fortes – submissão dos mais fracos – nos impede reconhecer o processo natural da dávida. Elemento dominante no sistema de inter-relação da natureza, onde toda célula do sistema está dando-se, num processo de continua entrega desde o nascimento ate a morte. Assim acontece tanto com o alimento de que dispomos nas nossas mesas, como da semente que a mão do homem, mulher deita na terra fresca. Sendo essa dávida, entrega a que em realidade alimenta continuamente todo este sistema de interdependência.

Essa dávida nascida do amor profundo (conceito ainda a descobrir pela humanidade) permite a mãe trazer os filhos à vida. Permite a arvore dar o fruto e, deveria permitir aos homens utilizar os braços para entregar-se aos outros ao invés de lhes fazer a guerra.

Ultrapassar essa estreita visão de contemplar o mundo como uma continua batalha entre espécies pela supremacia e controlo do território – que não conduziu a outra cousa alem de morte, sofrimento e destruição da rica e exuberante floresta circundante – tem de ser um dois princípios que rixam à humanidade do futuro: o novo Homo Consciente. Só evitando nossa errada visão de guerra, poderemos evitar a extinção massiva de espécies e empobrecimento da biodiversidade. Pois esta visão recria uma lógica lineal de projeção violenta – onde o conquistador Ser Humano se expande em detrimento das outras espécies. Seguindo esta lógica expansiva toda a teia natural da vida será destroçada.

Ficou, pois rematado o tempo do Homo Sapiens Sapiens, aquele que pensa que sabe – para ser substituído por um verdadeiro home de conhecimento: aquele que tem verdadeira consciência. O Homo Consciente.

Esse novo homo dever inverter o pensamento de guerra que nos levou a separação da natureza e, com elo, de todo o cosmo; por um novo pensamento de consciência mais alargada. Estado elevado de ego diminuído, ou melhor, em ausência de ego – que nos permita ser nós mesmos e permitir aos nossos congêneres ser eles mesmos – sem falsas tentativas de dominação perversa. Esse novo ser pode chegar a ver os rios, as flores, os campos, os animais e as mesmas rochas, como sendo parte dele mesmo. A vez que se observa a si mesmo como parte essência da mesma paisagem.

Daí que o ser ególatra precise substituir a natureza pela criação artificial – pelo artifício. Pela contra o ser integral (Homo Consciente) insere dentro da natureza suas próprias criações originais, nascidas a sua vez da sua naturalidade. Obtendo do continuo intercambio compreensão mais ampla. Assim desperta dentro da sua alma a intenção bondosa e começa despertar a compaixão por todos os seres – aquela que os budistas tibetanos nomeiam de “Bodichitta”; e que não é outra que uma observação profunda da necessidade de amor, caricias amizade, ajuda e colaboração mútua que todo ser vivo precisa para o seu correto desenvolvimento num sistema de interdependência. Onde o mesmo nascimento da biodiversidade precisa dumas determinadas características (colaboração) climáticas, orográficas, meteorológicas… Inseridas todas dentro dum sistema de dávida recíproca.

Na compreensão dessa dávida – entrega, está o inicio dessa nova humanidade. Desde o IGESIP (Instituto Galego de Estudos Internacionais pela Paz) pretendemos formar parte dessa imensa dávida da entrega e mudança – entregando nosso trabalho, estudos, eventos, projetos… Na medida das nossas humildes possibilidades em favor dessa harmônica mudança.