SAMEL AUN WER – do Livro: Tratado de Psicologia Revolucionaria.
O desenvolvimento da Essência só é possível à base de trabalhos conscientes e sofrimentos voluntários.
É necessário compreender que estes trabalhos não se referem a questões de profissão, bancos, carpintarias, serralheria, conserto de linhas férreas ou assuntos de escritório.
Este trabalho é para toda pessoa que haja desenvolvido a personalidade; trata−se de algo psicológico. Todos nós sabemos que temos dentro de nós mesmos isso que se chama
Ego, Eu, Mim Mesmo, Si Mesmo…
Desgraçadamente, a Essência se encontra engarrafada dentro do Ego, e isto é lamentável. Dissolver o Eu Psicológico, desintegrar seus elementos indesejáveis, é urgente, inadiável, impostergável. Este é o sentido do trabalho sobre si mesmo.
Nunca poderemos libertar a Essência sem desintegrar previamente o Eu Psicológico.
Ninguém poderia aniquilar o Eu Psicológico sem eliminar previamente os elementos inumanos que trazemos dentro de nós. Necessitamos reduzir a cinzas a crueldade monstruosa destes tempos, a inveja, que desgraçadamente veio a converter−se na mola secreta de nossas ações, a cobiça insuportável que tornou a vida tão amarga, a asquerosa maledicência, a calúnia que tantas tragédias origina, a embriaguês, a imunda
luxúria que age tão mal, etc., etc., etc…
À medida que todas essas abominações forem sendo reduzidas a poeira cósmica, a Essência, além de emancipar−se, crescerá e se desenvolverá harmoniosamente.
Inquestionavelmente, quando o Eu Psicológico morre, resplandece em nós a Essência.
A Essência livre confere−nos beleza íntima, e de tal beleza emanam a felicidade perfeita e o verdadeiro Amor…
A Essência possui múltiplos sentidos de perfeição e extraordinários poderes naturais…
Quando “Morremos em Nós Mesmos”, quando dissolvemos o Eu Psicológico, gozamos dos preciosos sentidos e poderes da Essência.
Leão Tolstoi – DO LIVRO: “O REINO DE DEUS ESTÁ EM VÓS.”
O homem não pode deixar de sofrer quando toda sua vida é regulada antecipadamente por leis às quais ele deve obedecer sob ameaça de castigo, ainda que não acredite em sua sabedoria e justiça e que até, muitas vezes, tenha plena consciência de sua crueldade e de seu caráter artificial.
Reconhecemos a inutilidade das alfândegas e das taxas de entrada, mas somos obrigados a pagá-las. Reconhecemos a inutilidade das listas civis e de muitas outras despesas governamentais; consideramos nocivos os ensinamentos da igreja, e devemos contribuir para a manutenção destas instituições. Reconhecemos como cruéis e injustas as condenações pronunciadas pelos tribunais e somos obrigados a participar desta justiça. Reconhecemos ser irregular e funesta a distribuição da
propriedade rural, e devemos suportá-la. Não reconhecemos a necessidade do exército
e da guerra, e devemos pagar terríveis impostos para a manutenção das tropas e para as despesas da guerra.
Mas esta contradição não é nada se comparada àquela que se ergue diante dos homens em suas relações internacionais e que, sob pena de perda da razão e da vida humana, exige uma solução: a contradição entre a consciência cristã e a guerra.
Todos nós, povos cristãos, que participamos da mesma vida espiritual, de tal
modo que cada pensamento generoso, fecundo, que nasce numa extremidade da Terra, comunica-se imediatamente a toda humanidade cristã e provoca por toda a parte o mesmo sentimento de alegria e orgulho, a despeito das nacionalidades; nós, que amamos o pensador, o filantropo, o poeta, o sábio estrangeiro; nós, que estamos orgulhosos com o empreendimento de Damien (1), como se nosso fosse; nós, que simplesmente amamos os estrangeiros, franceses, alemães, americanos, ingleses; nós,
que pregamos suas qualidades, que ficamos felizes ao encontrá-los, que os acolhemos
com prazer, que não só não podemos considerar como um ato heróico a guerra contra
eles, mas que também não podemos pensar sem terror que uma desavença tão grave possa ser deflagrada entre nós e eles, nós somos todos chamados a participar da carnificina que inevitavelmente deve acontecer senão hoje, pelo menos amanhã.
Compreende-se que os judeus, os gregos, os romanos hajam defendido sua independência com o assassinato e que, pelo assassinato, outros povos os hajam submetido, porque cada um deles acreditava firmemente ser o único povo escolhido, bom e amado por Deus, enquanto os outros
não eram senão filisteus ou bárbaros. Os homens da Idade Média, e também aqueles do final do século XVIII e do princípio deste, podiam ainda ter a mesma crença. Mas nós, apesar de todas nossas excitações, não mais podemos tê-la. E esta contradição é tão terrível em nossos tempos que não mais podemos viver sem encontrar uma solução.
O conde Komarovsky, professor de Direito Internacional, escreve em suas sábias memórias:
Os nossos tempos são ricos em contradições de toda a espécie; a imprensa de todos os países nos fala, em todos os tons, da necessidade da paz entre os povos e deseja-a ardentemente. Os membros dos governos declaram-no, assim como órgãos oficiais e privados; disto se fala na câmara dos deputados, nas correspondências diplomáticas e até nos tratados que se concluem. A paz está em todas as bocas e, no entanto, os governos a cada ano aumentam seus armamentos, introduzem novos impostos, fazem empréstimos e elevam desmedidamente seus débitos, deixando às gerações futuras o trabalho
de reparar todos os erros de nossa política insensata. Que lamentável contraste entre palavras e atos! E o que fazem os governos para justificar seus armamentos e o déficit de seus balanços? Colocam absolutamente tudo na conta exclusiva da defesal Mas eis o ponto obscuro, o que nenhum homem
imparcial pode ou poderá compreender: de que parte virá o ataque se, em sua política, todas as grandes potências são unânimes ao objetivar a defesa. É, todavia, evidente que cada uma destas potências está pronta, a cada minuto, para atacar as outras. Eis o que causa uma desconfiança geral, bem como os
esforços sobre-humanos de cada Estado para superar em forças militares todos os outros: competem para apresentar no campo de batalha a multidão mais imponente.Tanta rivalidade é por si só o maior perigo de guerra; os povos não podem prolongar ao infinito este estado de coisas e cedo ou tarde deverão
preferir a guerra à tensão em que agora vivem e à destruição que os ameaça.
Então o mais fútil pretexto bastará para acender o fogo da guerra em toda a Europa, de uma extremidade à outra. E esperamos em vão salvar-nos, com a crise, das calamidades políticas e econômicas que nos oprimem. A experiência das últimas guerras nos demonstrou suficientemente que cada uma delas
rendeu o mais profundo ódio entre os povos, o peso do militarismo mais insuportável e o estado político e econômico da Europa mais triste e mais difícil.
Por sua vez escreve Enrico Fermi:
A Europa moderna tem um exército de nove milhões de homens, e cerca de quinze milhões na reserva, e gasta quatro bilhões de libras por ano. Armando-se cada vez mais, esgota as fontes do bem-estar social e individual; e poderia facilmente ser comparada a um homem que, para conseguir armas,
condena-se à anemia, perdendo as forças de que precisa para se servir das armas que conseguiu e sob cujo peso acaba por sucumbir.
O mesmo diz Charles Booth, em seu discurso lido em Londres na Associação Pela Reforma e Codificação da Lei das Nacionalidades, a 26 de julho de 1887. Após haver mencionado a mesma cifra de nove milhões de homens no exército ativo e dezessete milhões na reserva, e as enormes despesas dos governos para a manutenção e o armamento destes exércitos, ele acrescenta:
Estas cifras não representam senão uma ínfima parte da despesa real, porque, além destas despesas conhecidas do balanço de guerra das diversas nações, devemos também considerar as incalculáveis perdas causadas à sociedade pela absorção de uma quantidade tão considerável de homens que, escolhidos entre os mais vigorosos, são tirados da indústria e de qualquer outro trabalho, além dos enormes juros das quantias despendidas em preparativos militares que nada rendem. A inevitável conseqüência destas despesas de guerra e dos preparativos militares é o aumento progressivo dos débitos do
Estado. A maior parte dos débitos dos Estados da Europa foi feita em previsão da guerra. Seu total soma quatro bilhões de libras esterlinas, ou cem bilhões de liras, e estes débitos aumentam a cada ano.
O mesmo Komarovsky diz, em outra parte:
Vivemos em tempos penosos. Ouvem-se por todos os lugares lamentações em torno da estagnação do comércio e da indústria, e em geral em torno da má situação econômica: são evidenciadas duras condições da vida das classes operárias e o empobrecimento das massas. Inventam-se, por toda a parte, novos impostos, e a opressão financeira das nações não tem limites.
Se examinarmos os balanços dos Estados da Europa durante os últimos cem anos, o que antes de tudo nos chama a atenção é seu aumento progressivo e rápido. Como podemos explicar este extraordinário fenômeno que mais cedo ou mais tarde ameaça os Estados de uma inevitável falência?
Isso provém certamente das despesas para a manutenção dos exércitos que absorvem a terça parte ou até mesmo a metade do balanço de todos os Estados da Europa. O mais triste é que não se vê o final deste aumento dos balanços e do empobrecimento das massas. O que é o socialismo senão um
protesto contra esta situação extremamente anormal na qual se encontra a
maior parte da população de nosso continente?
J
á Frédéric Passy, no último Congresso Universal da Paz, em Londres (1890), diz:
Arruinamo-nos para tomar parte nos loucos massacres do futuro, ou para pagar os juros dos débitos para nós deixados pelos loucos e criminosos massacres do passado. E, como dizia recentemente um dos nossos poetas do jornalismo, ‘morramos de fome para nos podermos matar’.
Falando mais sobre o modo como esta questão é considerada na França,
acrescenta: Acreditamos que, cem anos após a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, chegou o tempo de reconhecer os direitos das nações e de renunciar para sempre a todas estas façanhas de mentira e violência que, sob o nome de conquistas, são verdadeiros crimes de lesa-humanidade e que, não
obstante o que pensam a ambição dos soberanos e o orgulho dos povos, debilitam até aqueles que triunfam.
NOTA – 1
Empreendimento feito por Joseph De Veuster, que, em 1863, transferiu-se para a Oceania e consagrou-
se a cuidar de leprosos, dos quais contraiu a doença. Seu nome religioso era Padre Damien. (N. do E.)
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